quinta-feira, 20 de março de 2014

Pérolas de Morretes - Histórias - Personagens - entre outros - por Éric Joubert Hunzicker

PÉROLAS DE MORRETES.
HISTÓRIAS - PERSONAGENS - ENTRE OUTROS. 
por Éric Joubert Hunzicker.
Morretes - Paraná - Brasil
Éric Joubert Hunzicker 
- Memorialista e Historiógrafo -
Éric Joubert Hunzicker, disse: Estou iniciando um novo trabalho de divulgação da história de Morretes e de seus personagens.
Enviarei uma série de escritos sobre a nossa Morretes.

VAMOS CONHECER A NOSSA HISTÓRIA!

Espero que gostem e se manifestem sobre a ideia.
Abraços!
Saudações morretenses!
Éric Hunzicker

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Pérola nº 1

BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS FILHO

Poucos conheciam Rocha Pombo.
(In, Diário Popular de 20 e 21 de novembro de 1977)

Quando escrevemos sobre as expressões culturais de nossa gente, temos que pesquisar nos arquivos, documentos comprobatórios para atestar a individualidade de um nome, que consumiu sua existência na luta pela manifestação do pensamento e pôr, em relevo, o processo de auto-análise, ainda incubado, dos fatos históricos, como o desbravado dos caminhos, que conduziram à fase atual, de plena efervescência, na qual se forja, na linha nacional, como expressão majoritária, a nossa autonomia literária.
Pesquisar e montar uma obra, de muitos volumes é tarefa por demais difícil, como o fez Rocha Pombo!
Não há dinheiro que lhe pagasse o trabalho, mas, pensava ele, como Eça: 
“Que um só livro é capaz de criar a eternidade de um povo!”
Imaginemos, o que teria sido a vida desse pobre historiador, confinada, nesse recanto da cidade de Morretes, chamada, pelo Poeta José Gelbeck de “Ninho de águias imperiais entre montes azuis”.
Somente ele sabe o que lhe custou a sua incomparável “História do Brasil” (5 volumes) e todas as suas obras de valor, porque, tendo nascido pobre, viveu mais pobre e mais pobre morreu, embora fosse dono das mais belas jóias espirituais da época, insubstituível, no gênero que abraçou.
Segundo o depoimento de Fleius, José Francisco da Rocha Pombo (nascido em 1857 – Membro da Academia Paranaense de Letras – Cadeira número 1- tendo como Patrono Antonio Vieira dos Santos – e da Academia Brasileira de Letras – faleceu no Rio de Janeiro em 1933) - “Não era como esses historiadores, que escrevem sobre o trabalho dos outros. durante mais de vinte anos, ele o viveu como traça, varejando os arquivos, na faina incessante e penosa. foi assim que ele obteve os sólidos alicerces de sua obra”.
Em sua terra natal foi que ele formou sua sólida cultura humanística, sendo na época, centro de importância capital, econômica e intelectual do Paraná – no dizer de Raul Gomes. 
Armado desse elemento de êxito foi morar em Curitiba e de Curitiba foi morar em Paranaguá, onde procurou uma tipografia, em que tudo fazia: compunha, imprimia, redigia, revisava, etc., para ganhar a vida.
Não vendo progresso material, vendeu tudo e, com a família embarcou para o Rio, “Jogado como náufrago, às praias de Copacabana”, como conta um de seus biógrafos.
Lá, foi encontrado num hotel de 5ª classe – segundo Nestor Vitor que, quando o viu, com sua tribo, quis saber com que ele contava, para enfrentar a situação.
Disse-lhe o autor de “O Paraná no Centenário” (1900) – que lhe sobraram cinqüenta mil réis – toda a sua fortuna. 
A propósito dessa passagem da vida do autor da “História do Paraná”, “História do Brasil” e da “História Universal” – conta-se, que quando o Senhor Herbert Clarck Hoover - político americano, nascido em 1874 - Presidente dos Estados Unidos (1929 a 1933) e, depois da Segunda Guerra Mundial foi Presidente da Comissão de Socorro Extraordinário do Abastecimento – desembarcou no Rio de Janeiro, após os cumprimentos protocolares, perguntou porque não ouviu o nome do senhor Rocha Pombo entre os presentes.
Como seu admirador queria saber onde estava ele! Disse que o conhecia através de suas obras e, na simplicidade de homem americano, indagou qual a posição que o mesmo ocupava, no cenário nacional, pois, considerava-o o maior Historiador da América...
O grande estadista americano, certamente, tinha certeza da sua presença, naquela recepção, dado ao seu valor. Além disso, fazia questão de conhecê-lo pessoalmente, na rara oportunidade que se lhe apresentava, no desejo sincero, de apertar-lhe a mão, ante o valor de sua obra e dizer-lhe o que herdei, disse: de Deus, “Ele é grande, quer no grande ou no pequeno”.
Sabe-se que o embaraço foi grande!
Muita gente, de fraque e cartola, nunca tinha ouvido falar desse nome... Outros vagamente...
A história não guardou, qual a “explicação ou desculpa diplomática, inventada na hora”, para responder a uma inocente pergunta, de tão ilustre visita!
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Pérola nº 2

Clarimundo Rocha

por Alcibiades Playsant.
(in Revista do Centro de Letras do Paraná, num 1, 19 de dezembro de 1913, Ano I)

Disse o laureado romancista brasileiro, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo: Os túmulos representam o passado, formam por assim dizer, um mundo onde reina sempre à noite, em cujo firmamento, porém são estrelas que rasgam o véu das trevas, os nomes dos homens beneméritos que ali jazem debaixo das lousas. Os raios dessas estrelas, o brilhantismo desses nomes iluminam o caminho do futuro com a lembrança das ações e dos feitos excelentes ou gloriosos dos finados ilustres. É o passado que assim se torna mestre do futuro. Recordamos, portanto, neste momento o nome humilde de Clarimundo Rocha e depomos sobre a sua rasa sepultura, saudade. Sim, saudade pelo amor que teve as letras, paguemos essa dívida sagrada de gratidão, para exemplo dos vindouros. Honrar a sua memória é um dever. Clarimundo Rocha foi um mártir da fatalidade, o abismo da sepultura impediu-lhe de cultivar a sua fina intelectualidade, desapareceu restituindo ao berço amado a primeira respiração que recebera no mesmo berço. Nasceu Clarimundo Rocha em Morretes no ano de 1851. Era filho de João Dias da Rocha e da ex-escrava Maria de Jesus que, paupérrima e simples, conseguiu, entretanto fazê-lo educar nas escolas de primeiras letras de Morretes, e mais tarde com sacrifícios inauditos, vivendo de fazer pães para custear o filho, o fez seguir para Curitiba, a fim de receber a educação secundária do velho e popular professor Alexandre Rouxinol, como aluno interno. O amor maternal é uma fonte inesgotável, o amor de mãe é milagroso, amor que não mede o impossível e que quando descrê de tudo, tudo espera do incognoscível. Essa simples e humilde mulher de cor foi uma digna mãe do nosso finado. No colégio do velho Rouxinol, Clarimundo Rocha destacou-se dos seus companheiros, na ordem intelectual e assim ia conseguindo adoçar os dias trabalhosos de sua velha genitora que, só no mundo, lhe dava o pão do espírito. Clarimundo Rocha conquistou admiração dos companheiros e do professor, não só pela sua formosa inteligência, como também pelo seu comportamento exemplar, o que tudo determinou ser elevado a classe de adjunto. No colégio do popular professor Alexandre Rouxinol deu claros e palpáveis indícios da não vulgar inteligência e como arrebatado pela necessidade de saber que diariamente se desenvolvia com mais força e o impelia para o estudo, obteve matricula no Instituto Paranaense, instalado no ano de 1876. Foi nessa época que se iniciou no domínio das letras, fase primordial na sua vida laureada pelo estudo e que mais tarde veio constituir o grupo de poetas e escritores na primeira geração moderna paranaense tão destacada hoje. Clarimundo Rocha era uma alma vibrante e de um temperamento impulsivo, todavia sabendo aliar com a maior habilidade o seu espírito boêmio com as necessidades da vida escolar, tão tumultuada e ao mesmo tempo tão ríspida e exigente naquela época de verdadeira formação de civismo e intelectualismo paranaense. Da iniciativa daquele grupo, nasceram os dois primeiros jornais de estudantes: “Incentivo” e “Reverbero”, aos quais Clarimundo Rocha, que era um dos seus redatores, emprestou com muito brilho o seu talento e a sua energia. Traçando os artigos de apresentação e enriquecimento as suas colunas com bons artigos literários, alguns dos quais ungidos de um começo de filosofia moderna, como um atestado de seu espírito fecundo, em pleno cultivo de ideais, hoje vencedores. Durante quatro anos Clarimundo conviveu com esse grupo, destacando-se por seus estudos fora de comum e pela lhaneza e camaradagem, assim conquistando lugar de relevo e por assim dizer uma popularidade incontestável entre os seus companheiros. Era um querido da época, conhecia a sua linhagem modestíssima e reconhecia a sua pobreza, vivia cercado de afetos. A vida de Clarimundo estava no domínio de todos, sabia-se que a sua genitora gastava com sacrifício para educá-lo, havia um que de respeito profundo pelo acontecimento e uma aureola de carinhos cercava o infortunado colega, tão pobrezinho, mais tão sedento de luz. Quando em 1878 o então Imperador do Brasil, Dom Pedro II veio ao Paraná, entre outros estabelecimentos públicos, visitou o Instituto. Na presença de Sua Majestade, argüido pelos notáveis lentes de saudosa memória: Drs. Pereira Lagos, Justiniano de Mello, Tertuliano de Freitas, Euclides Moura, Otto Fienkensiepper, Franco Valle e Pires de Albuquerque, Clarimundo Rocha se revelou com tal destaque nos exames que Sua Majestade escolheu-o, e mais o aluno Domingos Nascimento, para seguirem para o Rio de Janeiro a fim de estudar por conta dele. Domingos Nascimento, já então republicano, completando o curso preparatório no Paraná, recusou o auxílio imperial e preferiu matricular-se na escola militar. Clarimundo Rocha a conselhos de amigos aceitou a pensão oferecida pelo bondoso Imperador e seguiu em 1881 a matricular-se na Escola de Medicina do Rio de Janeiro, indo hospedar-se no Mosteiro de São Bento. De nada valeram ao estudioso e paupérrimo patrício os auxílios prestados por Dom Pedro II e a acolhida espontânea dos frades do Mosteiro. Clarimundo Rocha, quando partiu para o Rio de Janeiro já apresentava indícios da terrível tuberculose que o havia de prostrar para sempre, dentro em pouco. Assim é que mal terminou o primeiro ano do curso médico, teve que suspendeu os estudos, regressando a sua terra, a fim de procurar alivio. Parece que houve um pressentimento de morte, deixando o Rio e procurando a terra que lhe serviu de berço para descer a sepultura. Chegando a Curitiba, hospedou-se na residência do seu velho e caritativo amigo professor Rouxinol, mas observando que a sua enfermidade poderia um dia afetar os filhos do seu saudoso educacionista, embora este houvesse tentado dissuadi-lo de qualquer suspeição, Clarimundo uma noite ausentou-se, deixando uma carta de agradecimento e justificativa de seu proceder e quando vieram ter notícias do seu paradeiro já se achava ele em Campo Largo e daí hemoptise sobre hemoptise, foi ter a São Luiz do Purunã, Palmeira, Ponta Grossa, Castro e cada vez mais afetado e enfraquecido foi descansar os seus restos de esqueleto numa cova anônima de Jaguariaíva, entre os desconhecidos, segregado da mãe amada, dessa velhinha de cor, tão pobrezinha e quem sabe se não regou a ultima massa de pão com uma gota de pranto. Clarimundo Rocha restituiu a terra querida, a primeira respiração que recebera no mesmo berço. Ah! Se a morte não se apresenta a riscá-lo do número dos vivos, se Clarimundo tivesse tempo de amadurecer o seu cérebro, colhendo com inspiração e profundeza de pensamento o fruto da sua inteligência que gloria não derramaria, talvez, sobre o seu berço natal! 
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Pérola nº 3

OS KRÜGER

Externamos, aqui, os nossos agradecimentos ao Senhor Waldemar Werner, incansável pesquisador, que nos deu valiosa contribuição, informando dados biográficos das figuras históricas que adiante apresentamos:

GERMANO KRÜGER - O VELHO

Natural da Alemanha nasceu no ano de 1847. Chegou ao Brasil, desembarcando no Porto de São Francisco do Sul, Santa Catarina, com 11 anos de idade. A família, depois de ter residido em Joinville, Santa Catarina, transferiu-se para a cidade de Morretes, no Paraná.
Foi naquela cidade que Germano casou com Anna Von der Osten.
Em 1847, mudou para Florestal, onde trabalhou na instalação da serraria que tinha por superintendente o engenheiro André Rebouças. Foi, certamente, a serraria pertencente à Companhia Florestal Paranaense.
Germano Krüger foi o Patriarca. Sua descendência contribuiu e continua contribuindo para o desenvolvimento do Paraná, notadamente nas ferrovias de nosso Estado, onde são lembrados com respeito, saudade e admiração: Ewaldo, Gumercindo e Germano Krüger Neto.
“Germano Krüger foi professor da Instrução Pública em Pacutuba.” (Jornal Dezenove de Dezembro, 14/8/1880)
Em setembro de 1886, naturalizou-se cidadão brasileiro, prova de amor pela segunda Pátria adotada.

EWALDO KRÜGER

Filho de Germano e Anna Von der Osten Krüger, nasceu em Morretes, em 28 de setembro de 1869. Aos seis anos de idade, transferiu-se, em companhia de sua família, para Florestal. Cursou as primeiras letras na escola de Florestal, tendo sido aluno do professor Alexandre José Fernandes Rouxinol (1).
Como resultado de sólida educação herdada do pai e da formação adquirida em boas escolas, aliadas à sua força de vontade, tornou-se engenheiro mecânico de nomeada nacional.
Funcionário da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina, na cidade de Ponta Grossa, Paraná, em 1906, então Chefe da Locomoção daquela ferrovia, o engenheiro Ewaldo Krüger põe em funcionamento a sua obra-prima, o automóvel de linha ferroviária movido a vapor, construído nas oficinas da mencionada ferrovia. Transcrevemos, adiante, os detalhes desse invento, o único no gênero, extraídos de seu livro Vencendo Rampas:
“No fim de 1906, havia eu construído um automóvel a vapor, trabalho feito nas horas vagas e com os precários recursos de que dispunha. Essa máquina conduzia seis passageiros, além do maquinista e do foguista. Esse automóvel de linha prestou relevantíssimos serviços à Estrada de Ferro.”
O locomóvel, conhecido por “HILDA”, por volta de 1935, foi reformado e aperfeiçoado na oficina onde se originou, vindo a ser desativado em 1963. Atualmente, encontra-se em exposição no Museu Ferroviário em Curitiba.
Após brilhante e dedicada carreira que culminou com a Chefia Geral da Locomoção da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina e da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, em Santa Maria da Boca do Monte, Ewaldo Krüger aposentou-se aos 7 de março de 1928.
(1) A mesma escola onde estudou Clarimundo Rocha.
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Pérola nº 4

ANTONIO RIBEIRO DE MACEDO - ITUPAVA

Relato de Antonio Ribeiro de Macedo (filho de Manoel Ribeiro de Macedo, Exator da Barreira do Itupava e de Francisca de Paula Pereira) registra em "Memória", de 1853, a maneira como se fazia a viagem pelo Itupava. 
"Em Morretes ou Porto de Cima pernoitava a família em casa de conhecidos por não haver então hotéis. Tratava-se de arranjar condução para Curitiba, que consistia em animais, de preferência muares, com os competentes selins, sendo de banda para as senhoras e pequenos para as crianças, pois que, de sete anos para cima, tinha de ir cada um em seu cavalo. Os menores iam no colo dos pais ou de outros conhecidos.
Tais preparativos demoravam pelo menos um dia, quando não estava tudo arranjado de antemão. No dia aprazado, montavam todos em cavalos ou bestas e seguiam pela estrada do Itupava, que era então o melhor que havia, por ser calçada. Andavam em terreno plano margeando o Rio Nhumdiaquara até o Morro Sabiocaba. Já então começava a subir, mas a maior subida começava da casa da barreira. A estrada era toda calçada, como já disse, porém estreita, de modo que, havendo tropas ou cavaleiros, aqueles que chegavam depois tinham de esperar de um lado para deixarem os outros passar. A estrada era tão íngreme que todos eram obrigados a se apear, ao contrário, arriscavam-se no caso de arrebentar uma silha, a cair de costas serra abaixo. Mesmo assim, alguns mais ousados subiam a cavalo, mas com grande risco. O lugar mais escabroso era o denominado Cadeado, onde existiam três degraus pelos quais os animais eram obrigados a subir, no que sem dúvida se viam bem embaraçados por não estarem os indivíduos da raça equina ou muar acostumados a semelhante ginástica. Suando, esbaforidos, com ardente sede, como sucede aqueles que sobem morros alcantilados, chegavam ao cume da serra onde todos descansavam e saciavam a sede, por haver ali uma fonte de excelente água. 
Não estava, porém terminada a viagem; continuava por muito tempo, subindo e descendo morros, não tão íngremes como os da serra, até chegarem ao lugar denominado Campina. Antes disso, em um alto, o viajante que nunca tinha ido a Curitiba, fica maravilhado pela beleza do Panorama. Apreciam-lhe não longe, os verdejantes campos ao lado de florestas de pinheirais, a esse tempo intactas por não ter ainda vindo o progresso, representado pelas serrarias, destruir esse tesouro que a pujante natureza do Paraná, estava guardando para construir um elemento de riqueza para a nova província. Encantados com o que viam, continuavam a viagem, ansiosos por chegarem aquelas paragens que, comparadas com os lugares que tinham atravessado na serra, lhes parecia um Éden.
Finalmente constatavam, qual um oásis no meio do deserto, uma boa casa, a do capitão Borba, que com sua digna esposa, a bondosa Dna Joana, pai e mãe do saudoso coronel Telêmaco Borba, ali tinham sua agradável vivenda e ofereciam franca e cavalheirosa hospitalidade a todos os que os procuravam. Não é demais depois de mais de meio século, eu venha prestar esta homenagem a essas duas almas que tanto bem fizeram, constituindo-se a providência de todos os que naquele tempo viajavam pelo Itupava. Os nossos viajantes ali ficavam até o dia seguinte, ou continuavam a viagem atravessando ainda um pouco de mato, até chegarem ao campo que tinham visto ao longe que, com intermitência de alguns capões, continuava até Curitiba, onde aqueles que não estavam acostumados a andar a cavalo chegavam extenuados. 
Note-se que a viagem que acabo de descrever era daquelas que eram consideradas boas, por ser realizada com bom tempo. Se, porém, chovia, era muito diferente. Os riachos afluentes do Nhundiaquara enchiam, e não havendo ponte em nenhum deles, se tornava impossível o trânsito. Como as cabeceiras eram muito próximas, também logo baixavam. Se a família era assaltada pelo temporal em viagem, tinha de estacionar no caminho em alguma das muitas casas, contíguas a engenhos de mate que, então, existiam ao longo da estrada, cujos proprietários nunca se negavam a proporcionar a hospitalidade reclamada, tomando como ofensa se lhe ofereciam disso pagamento. As casas a que me refiro eram somente da barreira para baixo, porque na serra propriamente dita, a não ser um morador que tinha um casebre junto ao rio Ipiranga, ninguém habitava. Quando chovia, nos lugares em que a estrada tinha barrancos de ambos os lados, transformava-se o caminho em rio, correndo água sobre o leito. Se o viajante não tinha onde parar, caso não ficasse retido por alguns dos riachos, tinha de descer ou subir por dentro d'água, pisando nas pedras escorregadias da calçada.
Eis o que era uma viagem pela melhor estrada do Paraná no tempo da instalação da Província, de que dou testemunho pessoal, por tê-la feito com chuva e com bom tempo mais de uma vez, em companhia de meu saudoso pai, no tempo de criança." 
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Pérola nº 5

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Pérola nº 6

OSMAR BASTOS CONCEIÇÃO

Pg. 290 – Antologia Paranaense.
Rodrigo Júnior e Alcibiades Plaisant.

Filho de João Alves Conceição e de Balbina de Siqueira Bastos Conceição, nasceu em Morretes a 6 de abril de 1901. 
Fez o curso primário em Castro como discípulo dos pais. Frequentou depois na capital do estado os colégios: Júlio Theodorico e Ginásio Curitibano. Matriculou-se em seguida na Escola Normal de Curitiba e no Ginásio Paranaense, obtendo o diploma de professor normalista, na primeira e certificado do curso de humanidades, no segundo. Em São Paulo estudou com o professor Marques da Cruz, ampliando os seus conhecimentos de Latim, Português, Filosofia e Literatura Geral. Cursou a Faculdade de Direito na Universidade de São Paulo. Foi diretor de vários grupos escolares no Paraná. Diretor do Ginásio e Escola Normal de Mirassol, no Estado de São Paulo. Exerceu o cargo de assistente técnico profissional ferroviário, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Em livro intitulado “Emoções que Ficam”, coligiu seus melhores versos.

Colaborou: Almanaque Paraná, publicação de propaganda mercantil e industrial, editada por José Pedro da Trindade, Curitiba, 1929.

BERÇO NATAL

Berço natal: um largo abandonado,
Um campanário branco e entristecido,
Um campo verde, um rio sempre calado
E um claro céu de azul sempre tingido.
Beirais antigos de apogeu vencido,
Troféu, no pó dos anos mergulhado; 
Balada morta, em eco dolorido,
Que nos conduz às sombras do Passado.
Quanto mais triste, estacionário, tanto
Mais nos faz recordar o inicio santo
De uma historia que a infância nos prendeu...
Berço natal: uma parede antiga,
Uma escola, um brinquedo, uma cantiga,
- Um pedaço da vida que morreu!
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Pérola nº 7

Cícero Gonçalves Marques

Cícero Gonçalves Marques, filho do Coronel Manoel Gonçalves Marques e de Rita de Loyola Marques, nasceu em Morretes. Casado com Hernestina Marques, filha do Capitão João Gonçalves Marques e de Leopoldina Leoniza de França.
Cícero foi político de prestígio na Vila do Porto de Cima. Exerceu o mandato de Deputado Estadual, Juiz Distrital e Suplente de Juiz Seccional, chegando a exercer interinamente o cargo de Juiz Seccional Federal e de Prefeito da Capital paranaense, com Mandato de 1896 a 1900.
Industrial da erva-mate no Porto de Cima, Coronel Comandante da Guarda Nacional na Guerra do Paraguai, natural de Morretes/PR, foi o 1º Prefeito eleito de Curitiba a cumprir os quatro anos de mandato. Disputou a eleição com o Presidente da Câmara e Prefeito interino Jorge Germano Meyer, conquistando a cargo com uma votação expressiva de 1.152 votos a seu favor contra 51 de seu adversário.
Após assumir a Prefeitura, criou o Conselho de Saúde Pública, o cargo de engenheiro da Câmara Municipal e determinou que os terrenos dentro da área urbana fossem cercados, cumprindo a lei das posturas. Construiu o Prédio do Matadouro Municipal, comprou equipamentos para o Passeio Público e prolongou as ruas XV de Novembro e Marechal Deodoro, para melhorar o trânsito de veículos, também mandou construir o muro do Cemitério Municipal São Francisco de Paula.
No final de 1897, por motivo de saúde, o prefeito Cícero foi substituído pelo Presidente da Câmara e vereador Manoel José Gonçalves, que após assumir o cargo teve vários problemas, principalmente o fechamento da única empresa funerária da cidade, que não concordava com o enterro grátis dos indigentes, obrigando o prefeito a conceder licença para outra empresa funerária atuar na cidade.
Nesta época o tráfego já preocupava a prefeitura, que proibiu os automóveis de circular acima de 10 quilômetros por hora.
Após se restabelecer e retornar a prefeitura, Cícero Gonçalves Marques comprou a usina energética da Companhia de Água e Luz de São Paulo, para enfrentar o problema da constante falta de luz em Curitiba.
Em 1898 afastou-se novamente por problemas de saúde, sendo substituído durante alguns meses pelo vereador Paulo França, retornando logo a cargo. Em 1900 transmitiu o cargo ao novo prefeito eleito Luiz Xavier.
Sua esposa foi uma das legatárias de seu tio Tristão Martins de Araújo França, que em seu testamento a contemplou com Rs 500$000 (quinhentos mil réis) e também com a mesma quantia a sua irmã Maria. Deixou também Rs 1.000$000 (um conto de réis) a sua irmã Leopoldina Leoniza de França Marques; Rs 3.000.000 (três contos de réis) ao seu afilhado Dr. Nilo Cairo da Silva e Rs 200$000 (duzentos mil réis) a cada uma das igrejas e ao Hospital de Paranaguá.
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Pérola nº 8

1860-12 de setembro: Morretes

Teve lugar no dia 7 do corrente a eleição municipal e de juízes de paz. 
Vereadores: 
1º- Comendador José Miró de Freitas, 250 votos; 
2º- Tenente-Coronel Ricardo José da Costa Guimarães, 258; 
3º- Major Francisco Pereira da Costa, 257; 
4º- Tenente Manoel Carneiro dos Santos, 257; 
5º- Capitão João Gonçalves Marques, 250; 
6º- José Cordeiro de Miranda, 248 e 
7º- José Pedro da Rocha Júnior, 248. 
Suplentes: 
1º- Coronel Modesto Gonçalves Cordeiro, 222 votos; 
2º- Major José Fernandes Corrêa, 202; 
3º- João Coelho Guedes, 197; 
4º- Francisco Antônio da Costa Nogueira, 196; 
5º- João José Figueira, 196; 
6º- Fausto Bento Vianna, 194;
7º- Francisco da Costa Pinto, 192. 
Juízes de Paz: 
1º- Comendador Antônio Ricardo dos Santos, 192 votos; 
2º- Rufino Gonçalves Cordeiro, 190; 
3º- João Ferreira da Costa, 188; 
4º- Manoel Cordeiro Gomes, 187. 
Suplentes de Juízes de Paz: 
1º- Joaquim Pedro da Rocha, 171 votos; 
2º- José Antônio dos Santos, 167; 
3º- Francisco Luiz Ferreira, 160;
4º- Joaquim Antônio dos Santos, 159. 
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Pérola nº 9

Como era a nossa Morretes em 1854

1854-18 de novembro: Morretes. 3º Termo Judiciário e Policial. Ao sudoeste da Vila de Antonina, e em distância de 2½ léguas. Elevada a Vila pela Lei Provincial nº 16 de 1º de março de 1841. Está situada a margem direita do Rio Cubatão, onde termina uma das ramificações da Estrada Geral de Curitiba e a denominada do Arraial. Compreende a Vila 9 quarteirões, denominados: o 1º, da Vila com 84 fogos e extensão de 400 braças de frente e 300 de fundo; o 2º, também da Vila com 94 fogos e extensão de 150 braças de frente e 300 de fundo; o 3º, denominado da Ponte Alta com 99 fogos e uma légua quadrada; o 4º, do Porto de Cima com 229 fogos e légua e meia de extensão; o 5º, de Marumbi com 68 fogos e 2½ léguas quadradas; o 6º, do Rio do Pinto com 89 fogos e 2 léguas quadradas; o 7º, do Rio Sagrado com 71 fogos e 1½ légua de frente por duas de fundo; 8º, dos Barreiros contendo 38 fogos em 2.400 braças de frente e 400 de fundo; 9º, do Rio Pequeno com 36 fogos e meia légua quadrada. Nestes 738 fogos desses nove quarteirões existem 3.709 indivíduos, dos quais são homens 1.856 e mulheres 1853. Não passam de 21 anos 1.975, de 40 anos 1.233 e sobem dessa idade 501. São solteiros 3.001, casados 484 e viúvos 224. São brancos 1.563, mulatos e pardos 1.234 e pretos 912. Tem 755 escravos. Contém a Vila de Morretes 126 negociantes, 368 lavradores, 47 jornaleiros (pessoas que trabalham como tarefeiros), 35 alfaiates, 61 sapateiros, 25 carpinteiros, 1 padeiro, 1 tanoeiro, 4 ferreiros, 2 músicos, 1 latoeiro, 2 pedreiros, 1 fogueteiro e 1 carniceiro. Há na Vila a Igreja Matriz e um cemitério ao lado dela. Há ali também a Irmandade de São Benedito. No 4º quarteirão, denominado do Porto de Cima, lugar que dá fundadas esperanças de prosperidade e engrandecimento pelo seu avultado comércio e população, existe uma Capela filial a Matriz, sob a invocação de São Sebastião e Nossa Senhora da Guia. A Vila produz muito bem arroz, café, milho, feijão, cana, fumo, e é um dos lugares de mais comércio em toda a Província. Houveram no ano passado (1853) 195 batizados e 123 óbitos, tendo havido 20 casamentos. A Vila de Morretes concorre com 7 eleitores para o Colégio Eleitoral de Paranaguá e o seu Júri se compõe de 76 eleitores. 34/1/04.
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Pérola nº 10

1870-30 de abril: Festejos

Vamos dar hoje uma notícia mais desenvolvida dos festejos havidos por ocasião da chegada dos Voluntários da Pátria a capital da Província. Foi esplêndida a entrada desses bravos defensores da pátria. É indescritível, escapa aos circunspectos lineamentos da linguagem humana o quadro sublime, a maravilhosa perspectiva que a cidade apresentou nestes três dias da festa mais pomposa do Paraná, talvez pouco comum em algumas das demais Províncias do Império. Eram 4 horas da tarde, quando os Voluntários, precedidos da Banda de Música “Capricho Morretense”, que os acompanhara desde Morretes, fizeram sua entrada triunfal na cidade, parando junto ao arco da entrada e recebendo as ovações populares. Imponente e majestosa foi esta cena. Longas alas de homens e senhoras, diversas corporações, a oficialidade da Guarda Nacional, postados ao longo da estrada, correspondiam com frenéticos aplausos os vivas que os oradores erguiam aos bravos defensores da pátria. 1092/1/02-03.
É ou não é emocionante? Nossa Morretes sempre mostrando sua cultura, sua história, sua cidadania.
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Pérola nº 11

1884-16 de novembro

Faço saber a todos que o presente Edital virem que, por despachos proferidos nas respectivas petições foram incluídos no Alistamento Eleitoral da Comarca, visto como provaram as condições legais para serem eleitores: Paróquia de Morretes: 1º Quarteirão: Eduardo Hunziker e Leandro de Souza Luz. 2º Quarteirão: Bento Antônio Barcellos, José Winkler e Pedro Prijani. E que foram excluídos do alistamento da Paróquia de Morretes, por mudança de domicílio para fora da Comarca, os eleitores: Antônio da Costa Pinto, Albino José da Silva e Ulysses da Costa Pinto. Outrossim faço saber que por não terem satisfeita as condições das leis e disposições em vigor, a fim de serem incluídos no alistamento da comarca, foram indeferidos por despachos fundamentados os requerimentos dos cidadãos: Francisco Gonçalves de Oliveira Maia, Job Balduino Lopes, José Antônio Gonçalves, José Policarpo da Costa, Manoel Vicente da Silva, José Damranf e Sérgio José Vilella. E finalmente que não foi incluído no alistamento da Paróquia da Cidade de Morretes o eleitor Sezefredo de Oliveira Ferreira, por não ter exibido seu título com declaração de mudança nele posta pelo Juiz de Direito da Comarca. Dada e passada nesta Cidade de Antonina, aos 11 de novembro de 1881. E eu, Antônio da Costa Ramos Picaflores, escrivão a escrevi. Francisco da Cunha Machado Beltrão. 03/38/03.
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Pérola nº 12

"Voluntários da Pátria", (na Guerra do Paraguai)

Uma parte da história sobre os "Voluntários da Pátria", (na Guerra do Paraguai), de Morretes e Porto de Cima.

1865-18 de fevereiro: Ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor André Augusto de Pádua Fleury, Mui Digno Presidente da Província do Paraná. 
O Senhor Tenente-Coronel Manoel Gonçalves Marques, Comandante Superior Interino da Guarda Nacional nos municípios de Morretes, Antonina, Paranaguá e Guaratuba, dirigiu ao Exmo. Sr. Presidente da Província o seguinte ofício: 
“Ilmo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de comunicar a V. Excia. que tendo ontem ido assistir a revista do 4º Batalhão em Morretes para dar cumprimento ao Decreto do Exmo. Governo Imperial e circular de V. Excia. de 16 do mês findo, com respeito a “Voluntários da Pátria”, e tendo feito sentir as garantias do mesmo Decreto, apresentaram-se “Voluntários da Pátria”, 1 Tenente e 17 Guardas Nacionais, os quais se inscreveram no livro para esse fim criado, e levo ao conhecimento de V. Excia. a fim de resolver se estes cidadãos ficam nesta Vila, ou tem de seguir para onde estiver o corpo de voluntários. 
Logo que tenha participação do resultado em outros corpos levarei a presença de V. Excia. Deus Guarde a Vossa Excelência. 
Quartel do Comando Superior da Comarca de Paranaguá, no Porto de Cima, 6 de fevereiro de 1865. 
Manoel Gonçalves Marques. Comandante Superior Interino. 
Relação dos “Voluntários da Pátria” de Morretes e Porto de Cima. 
1)-Francisco José de Oliveira,
2)-Antônio José Leite Bastos,
3)-Simão Vieira Cassilha,
4)-Amálio Leal Nunes,
5)-Manoel Antônio de La Pedra,
6)-Antônio Franco,
7)-Benedito da Silva Rocha,
8)-Manoel José Guedes,
9)-Joaquim Antônio Camacho,
10-Antônio Geraldo Moreira,
11)-João Ventura de Andrade, 
12)-Manoel Libânio da Silva Pereira,
13)-Emygdio José da Rosa,
14)-Arlindo José Ferreira da Silva,
15)-Manoel Lourenço dos Santos,
16)-José Balduíno Lopes,
17)-Manoel Ribeiro de Freitas,
18)-João Araújo de Souza.

Sua Excia. louvou ao Sr. Tenente-Coronel Marques o seu zelo e dedicação neste serviço, e ordenou que entregasse ao Tenente Vaz Lobo, os “Voluntários da Pátria”, todos de Morretes e Porto de Cima. 565/1/03.
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Pérola nº 13

1860-12 de setembro: Morretes

1860-12 de setembro: Morretes. Teve lugar no dia 7 do corrente a eleição municipal e de juízes de paz. Vereadores: 1º- Comendador José Miró de Freitas, 250 votos; 2º- Tenente-Coronel Ricardo José da Costa Guimarães, 258; 3º- Major Francisco Pereira da Costa, 257; 4º- Tenente Manoel Carneiro dos Santos, 257; 5º- Capitão João Gonçalves Marques, 250; 6º- José Cordeiro de Miranda, 248 e 7º- José Pedro da Rocha Júnior, 248. Suplentes: 1º- Coronel Modesto Gonçalves Cordeiro, 222 votos; 2º- Major José Fernandes Corrêa, 202; 3º- João Coelho Guedes, 197; 4º- Francisco Antônio da Costa Nogueira, 196; 5º- João José Figueira, 196; 6º- Fausto Bento Vianna, 194 e 7º- Francisco da Costa Pinto, 192. Juízes de Paz: 1º- Comendador Antônio Ricardo dos Santos, 192 votos; 2º- Rufino Gonçalves Cordeiro, 190; 3º- João Ferreira da Costa, 188 e 4º- Manoel Cordeiro Gomes, 187. Suplentes de Juízes de Paz: 1º- Joaquim Pedro da Rocha, 171 votos; 2º- José Antônio dos Santos, 167; 3º- Francisco Luiz Ferreira, 160 e 4º- Joaquim Antônio dos Santos, 159. 254/1/04. 
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Pérola nº 14

Homenagem ao Poeta Fernando Amaro

Como homenagem ao Poeta Fernando Amaro, segue a notícia do seu falecimento.
Morretes, 21 de novembro de 1857: Necrologia.
Acabam as parcas de registrar, no indefinito necrológio da humanidade, mais uma morte prematura. No dia 15 do corrente faleceu, na Vila de Morretes, vítima de uma instantânea congestão cerebral, o nosso patrício e amigo Fernando Amaro de Miranda, cujo funeral teve ontem lugar às 8 horas da manhã. O saimento que o levou ao cemitério foi um dos mais grandiosos que ai se tem visto. O luto, o respeito e a pontualidade dos convidados, provas abonavam, nesse ato de caridade e religião, que o finado merecia deles ao menos a derradeira homenagem, esse piedoso respeito. A casa do Sr. Vicente Ferreira de Loyola, que havia acolhido o finado desde os pródromos dessa imprevista e fatal enfermidade, foi o cenário em que o drama da vida desse moço, aliás, tão rigoroso, desceu o pano na última peripécia. O Sr. Loyola, seus amigos e os do finado devem gozar os elogios dos homens de consciência, cada um pelo encargo que tomou, pela cooperação mutua que se prestaram, a fim de darem ao público um testemunho de que em seu coração há um lugar onde mora a caridade. Fernando Amaro de Miranda contava pouco mais de cinco lustros, era uma flor desabrochada ao sol da cidade de Paranaguá, cujo céu o inundara d’animação e de gênio, fadando-o pela poesia. Entretanto, mais poeta de coração que de cabeça, consumiu a maior parte do seu melhor tempo em busca de um mundo platônico que a sorte nunca o deixara gozar além da perscrutação. De uma inteligência superior e natural, animado pelo gênio e pretensão de criar um nome propriamente seu, inebriou-se nos cadenciosos versos de Gonçalves Dias e Magalhães, e produziu “Pulsações de Sua Alma”, ainda não impressas, outros, “Zaluar” e “Aboim”. Como estes, cantou amores, o céu, os rios e as palmeiras de sua terra natal. Brasileiro de nascimento e coração foi primeiro que tudo devotado cidadão, e se nada fez pela pátria, e nenhum legado lhe deixou, foi porque nem nome, nem fortuna herdara de seus pais. De mais, devendo a si próprio o que tinha e o que era, a sua biografia pode resumir-se a estes termos:
Muito sofreu, nada gozou.
A carreira comercial que principiara, e que a morte cortou-lhe ciosa de que nela fosse mais feliz, devia-a ao magnânimo coração do Comendador Antônio Alves de Araújo, cujo nome adorava sinal de que era nobre pela gratidão.
A terra lhe seja leve.
Porto de Cima, 17 de novembro de 1857. Manoel Alves de Paula.

Ele foi sepultado em Morretes, no cemitério que ficava ao lado da Igreja Matriz. O autor do artigo, que era seu amigo, residia no Porto de Cima.
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Pérola nº 15 

FORMANDOS DO GINÁSIO ESTADUAL “ROCHA POMBO”
HOMENAGEIAM O PATRONO - 1959

João Hosny Gonsalves, Antonio Carlos de Souza, Carlos Eduardo Hunzicker, Antonio Celso Pinto, Jared Lopes de Araújo, Éric Joubert Hunzicker, César Bastos Alpendre, Eloi Cagni, Josué Fernandes de Souza, Mario Alberto Orreda, Valdir Ladislau Silvério, José Roberto de Azevedo, Cléa Lopes Ferreira, Raul José Matsuzava, Maurita dos Santos, Raquel Pereira, Nilda do Carmo, Roselvira Ribeiro de Campos, Maria Narcisa Marques da Silva, Neusa do Carmo, Vera Lúcia Jazar, Sadayo Tschue, Iole Oliveira da Silva, Roselis Porcides, Dulce Maria Cherobim, Maria Odete Cauduro, Judite Irene Rodrigues e Marli Guiomar Silva.
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Pérola nº 16

Para aqueles que descendem de famílias tradicionais do Anhaia.
 1891-7 de julho: Festividade.
 
1891-7 de julho: Festividade. Como havia sido anunciado, solenizou-se com todo esplendor a Festa do Glorioso São Pedro da Freguesia do Anhaia. No dia 29 de junho, pelas 11 horas da manhã teve lugar a celebração da Missa Cantada pelo distinto Vigário Cônego José Jacintho de Linhares, o qual se prestou com o mais vivo prazer em atender a todos os atos da Igreja. Por ocasião do Evangelho ocupou a Tribuna Sagrada o mesmo Exmo. Sr. Vigário, que, com o brilhantismo de suas palavras cheias de eloquência proferiu um prolongado e luminoso discurso demonstrando aos fiéis devotos, os profundos mistérios daquele portentoso orago que fora escolhido primeiro vigário da terra (São Pedro). A orquestra, regida pelo digno artista Henrique Dias esteve primorosa executando o solo do Laudamus, e a Ave-Maria, por ocasião do sermão, pelo distinto Professor Manoel Adriano, de modo a satisfazer aos ouvintes. A grande concorrência de devotos, especialmente de alguns pontos como sejam: Curitiba, Antonina, Porto de Cima e Morretes, e o bom tempo durante aquele dia, muito contribuiu para o esplendor da festa. A Capela, com modesto aparato e sempre regurgitando de devotos nos atos religiosos, tornara-se majestosa e deslumbrante. Próximo a Capela, havia um grande botequim luxuosamente embandeirado, destinado a suprir os romeiros que para ali se dirigiram. Ao lado do local onde se realizou o leilão de prendas, havia um bem preparado coreto onde a banda musical dava execução a boas e harmoniosas peças de seu repertório. O Adro da Capela achava-se circundado de palmeiras e entrelaçadas de bandeiras, apresentava uma vista agradável e imponente! Pelo Capitão João Negrão foi oferecido ao Cônego Linhares e seus amigos, um lauto jantar onde trocaram-se muitos brindes, sendo todos calorosamente aplaudidos. Seguindo-se após a última novena houve um animado soirée na espaçosa sala da residência do Sr. Negrão, onde foi uma reunião de muita alegria e animação, prolongando-se até alta noite. Tudo correu na melhor boa ordem, não houve o mais pequeno descontentamento, de maneira a não ter dado que fazer a polícia, justificando-se, assim, a boa ordem que se manifestou no povo desta Freguesia e dos devotos que concorreram a festividade. Ao encarregado dela faltam expressões para agradecer ao benemérito Cônego Linhares os inegáveis serviços que tem prestado gratuitamente, não só a Capela, como a várias pessoas indigentes desta localidade. Agradecendo igualmente ao prestimoso Professor o cidadão Manoel Adriano, que, desinteressadamente concorreu a fim de tornar mais solene e brilhante o ato religioso, a Banda Musical de Morretes, pela generosidade e cooperação de seus serviços com os quais abrilhantou toda a festividade, as Exmas. Famílias não só desta Freguesia como das outras cidades, pela espontaneidade com que se dignaram oferecer suas delicadas prendas ao leilão, e, finalmente a todos os fiéis devotos que assistiram as solenidades e auxiliaram com suas esmolas pata levar-se a efeito festa deste ano, protesta profundamente o seu maior reconhecimento e gratidão. Anhaya, 3 de julho de 1891. 445/3/3.

Infelizmente, o autor não assinou.
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Pérola nº 17

Cópia do Contrato para o serviço de diligências entre as cidades de Morretes e Antonina.
 
1890-15 de janeiro: Cópia do Contrato para o serviço de diligências entre as cidades de Morretes e Antonina. Aos trinta e um dias do mês de dezembro de mil oitocentos e oitenta e nove, neste Contencioso do Tesouro do Estado do Paraná, presente o Doutor José Lourenço de Sá Ribas, Procurador Fiscal e Christiano Frederico Sellmer, por este foi dito que em virtude de sua proposta de vinte e quatro do corrente e ordem do governo deste mesmo Estado, datada de 27 do mesmo mês, vinha assinar contrato para o serviço de diligências entre as cidades de Morretes e Antonina, sob as condições seguintes: 1º- O contratante obriga-se a fazer diariamente uma viagem da cidade de Morretes a cidade de Antonina e vice-versa, devendo partir os carros da estação central, que é a primeira daquelas cidades, depois que ai chegar o trem de Paranaguá, isto é, 30 minutos depois, devendo esse serviço empregar carros ou trolys com capacidade para seis passageiros. Uma hora antes da chegada do trem de Curitiba deverá achar-se a diligência em Morretes. 2º- O preço de cada passagem será de 2$000 rs. de Morretes a Antonina ou de 3$000 rs. de ida e volta, obrigando-se o contratante a publicar na folha oficial o preço das referidas passagens. 3º-Cada passageiro terá direito d conduzir 10 quilos de bagagem, pagando $200 réis por cada quilo que exceder. 4º- Obriga-se mais, a conduzir malas do correio pelo preço que conveniar com a respectiva Administração Geral. 5º- A infração de qualquer das cláusulas aqui estipuladas, obriga o contratante as multas de 20$000 rs. a 50$000 rs. na 1ª e 2ª infrações e na 3ª, na rescisão do contrato. 6º- Não poderá o contratante transferir este contrato sem prévio consentimento do Governo a quem fica o direito de rescindi-lo desde que assim o entenda conveniente. 7º- O Tesouro pagará ao contratante por esse serviço anualmente 1:000$000 rs. (um conto de réis). 8º- O presente contrato terá validade de 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano vigente. E sendo aceitas pela parte contratante as cláusulas deste contrato e tendo pago os emolumentos no valor de 44$000 rs., conforme o Conhecimento nº 208 de hoje datado, e os selos proporcionais ao valor do contrato, se lavrou o presente contrato que vai assinado pelo Dr. Procurador Fiscal e o Contratante. Eu, Nestor Pereira de Castro, empregado do Tesouro do Estado do Paraná, esta, passei aos trinta e um dias do mês de dezembro de mil oitocentos e oitenta e nove. José Lourenço de Sá Ribas, Christiano Frederico Sellmer. Está selado com uma estampilha do valor de mil réis inutilizada pelas assinaturas. Sala do Contencioso do Tesouro do Estado do Paraná, 13 de janeiro de 1890. Confere, o 2º Escriturário. Manoel Pereira de Souza. 17/3.
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Pérola nº 18

Homenagem aos descendentes e moradores do Porto de Cima.
 1888-23 de janeiro: Porto de Cima

Porto de Cima dava um exemplo à nação e libertava todos os seus escravos, antes mesmo da Lei Áurea!
1888-23 de janeiro: Porto de Cima. Porto de Cima, a simpática e hoje gloriosa Vila, está livre! Nós sentimos com essa notícia um prazer indizível. Não pisar mais um escravo numa pequena porção da Província, que felicidade! Senhores de todas as cidades, de todas as Vilas, de todos os lugares, porque não resolveis essa coisa tão fácil e ao mesmo tempo enorme – a liberdade dos vossos escravos? Vamos paranaenses, vós nunca fostes escravocratas, os vossos negros nunca deram lugar às tragédias da dor e do horror, como em outras partes, manifestai pois, aos homens, libertando homens, que nunca fostes verdugos!!! 04/3/02.
Jornal "A República"
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Pérola nº 19

Anhaia - 1881-16 de março: Felicitações.

1881-16 de março: Felicitações. Ilmo. Sr. Dr. João José Pedrosa. Os habitantes do Anhaia, Distrito de Morretes, em sinal de apreço aos relevantes serviços prestados pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. João José Pedrosa, dirigiram-lhe a seguinte manifestação de apreço, cuja íntegra folgamos em dar-lhe publicidade. “Os abaixo-assinados residentes no Anhaia, Distrito da cidade de Morretes, vem a presença de S. Excia. significar o seu profundo reconhecimento pelos relevantes serviços que acaba V. Excia. de prestar a este esquecido e abandonado bairro. Os abaixo-assinado vendo cumpridos os seus mais ardentes desejos quanto a sua estrada muitíssimo melhorada, e possuir, graças ao espírito de elevada instrução que anima V, Excia uma Escola primária do sexo masculino funcionando regularmente e produzindo os frutos do verdadeiro progresso da civilização, e, convictos que só ao zelo, justiça e atividade de V. Excia. devem estes melhoramentos, digne-se V. Excia. aceitar os nossos sinceros protestos de gratidão, consideração e respeito. Deus Guarde V. Excia. Anhaia, 6 de março de 1881. Antônio Polidoro, Ricardo de Souza Dias Negrão, Manoel Jácomo da Cunha Veiga, Leopoldino José de Abreu, Antônio Joaquim Vieira de Sá, João Negrão, Luiz Raphael Frederico, Joaquim Nunes Leal, Victor Feliciano, Antônio Cesário da Silva, Eduardo Luiz da Silva, Amálio Vieira da Silva, Antônio da Silva Marques, Graciliano Eduviges de Miranda, Horácio Quirino Teixeira, Laurindo Ferreira de Souza, José Cesário da Silva, Frederico Leal Nunes, Joaquim Cesário da Silva, Albino José da Silva, João Antônio Fabrício, Alexandre Leal Nunes, José Leandro de Lima, João Leal Nunes, João Cordeiro de França, José Leal Nunes, José Apolinário, Antônio de Souza Dias Negrão, Antônio Luiz Bofé, Hypólito Francisco de Miranda e Manoel Pereira da Silva. 2123/1/03.
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Peróla nº 20

Postado/publicado no facebook - por Dalton Heros Malucelli Júnior.
Fonte:> históriasdemorretes.blogspot.com.br
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