HISTÓRIAS SOBRE A CACHAÇA MORRETIANA.
A CACHAÇA
por CASCUDO, Luís Câmara.
Na Espanha, segundo Cascudo(1968), era fabricado uma espécie de aguardente obtida com as borras das pisas de uva. Evidentemente quando os europeus vieram para o Brasil, trouxeram os seus costumes.
A cachaça nasceu da indústria do açúcar (o Brasil foi por mais de duzentos anos a terra do açúcar), bastarda e clandestina, merecendo depois proclamação de legitimidade. A cachaça tornou-se uma bebida nacional. O brasileiro é devoto da cachaça, mas não é cachaceiro, ou seja, a cachaça se torna um eixo socializador entre os indivíduos, não sendo comparada a uma droga, mas ao cafezinho bem brasileiro. A ida a campo confirmou a concepção de Cascudo.
Romano Marques (entrevistado e proprietário de um bar em Morretes), nos informou que uma variedade de pessoas freqüentam seu bar (amigos, médicos, clientes novos e antigos). Normalmente os clientes vão sempre no mesmo horário, todos os dias (através de uma repetição ritualística. Os ritos servem para reforçar o comportamento social e os costumes de uma cultura através da sua repetição). Chegando no bar, pedem uma “cachaça” e ficam várias horas conversando sobre vários assuntos, como futebol, política, astrologia, assuntos gerais.
A entrevista realizada no bar, de uma forma sucinta nos mostra que os entrevistados não consideram a cachaça uma droga, mas a comparam ao cafezinho ou a um bom palheiro, pois esta estabelece uma ligação entre os indivíduos.
METODOLOGIA
Esta pesquisa adotou como método a Observação Participante, onde nos deslocamos até Morretes duas vezes durante o trabalho, nos dias 14 de setembro e 24 de setembro. Passamos os dias observando e interagindo com a população nas ruas, em lojas de artesanato, loja de confecções e loja de consertos de utilidades doméstica, fomos à farmácia, panificadora, bar, hotel, escola, posto de gasolina, casa lotérica, biblioteca, associação do artesanato de Morretes, correio, alambiques e restaurantes. Os instrumentos de pesquisa foram: fotos de engenhos antigos e modernos, de pontos comerciais, restaurantes. Filmagens de restaurante, engenho e bar. Utilizamos textos literários, panfletos cedidos pela Secretária da Cultura e biblioteca e entrevistas aberta com:
- Maurício, dono do restaurante Casarão e produtor de cachaça da cidade;
- Ronaldo, representante do restaurante Madalozo
- Renato, representante do restaurante Ponte Velha.
- Rosane, presidente da Associação do Artesanato de Morretes.
- Diquinho, mais antigo produtor de cachaça da região.
- Marcel, dono do Engenho Novo.
- Malucelli, atual dono do Alambique Sítio do Campo.
- Romano, dono de bar.
- Entrevistas com moradores, comerciantes, com variação de idade de 23 a 75 anos.
Estes moradores vivem em Morretes de 5 meses a 75 anos.
Entrevistas com pessoas da cidade de Morretes.
Nome: Fábio
Mora em Morretes desde maio de 2002 . Trabalha na farmácia, e afirma que mesmo os moradores de Morretes não comem muito Barreado, o comércio é bastante influenciado pelos turistas que passam por lá diariamente.
Nome: Francismara
Idade : 27 anos
Nascida em Morretes, trabalha em confeitaria. Não come barreado há seis meses, acredita que o significado do barreado para a cidade seja a tradição da comida.
Nome: Elisângela
Idade: 23 anos
A cidade é conhecida pela cachaça e pelo barreado, que é o ponto principal da cidade.
Toda a cidade é movida pelo turismo. Para as pessoas mais antigas, a cachaça e o barreado ainda são muito importantes, já para a população mais jovem, já perdeu um pouco da importância. Afirma ela.
Nome: Castorina
Idade : 75 anos
A cidade sem o barreado e a cachaça não teria valor. Hoje em dia não existem mais tantas usinas como antigamente. Morretes é uma cidade boa.
Nome: Zilda
Idade : 65 anos
Nascida e residente em Morretes, costureira.
O barreado é importante por atrair turistas e por ajudar a cidade economicamente os moradores sentem orgulho do barreado. Compra barreado sempre.
Nome: Mauricio, dono de alambique e do restaurante Casarão.
Maurício possui um alambique com estruturas modernas, há um ano. Seus bisavôs tinham alambiques e ele segue a tradição.
A venda da sua cachaça é feita apenas no município de Morretes. Após o registro do Ministério da Agricultura, será possível sua exportação.
O proprietário nos informou que a EMATER e o SEBRAE estão em uma parceria para transformar Morretes no primeiro pólo de produção brasileira de cachaça de qualidade.
Maurício possui o restaurante há dez (10) anos, e nos mostrou como é feito o barreado. Nos disse que o restaurante tem seu maior movimento nos finais de semana e do mês de Novembro até o Carnaval.
Nome: Bernadete
Idade: 41 anos
Residente há 21 anos em Morretes. A cidade é beneficiada pela festa do barreado, e é beneficiada pela venda de seus produtos como pão, por exemplo, para festa.
Nome: Maria Antônia
Idade: 73 anos
Nascida e residente em Morretes, dona de hotel. O barreado não traz benefícios, pois a maioria das pessoas que vem saborear o barreado come e vai embora, não se hospeda em seu hotel. Faz barreado em casa.
Nome: Emanuel Serriys, turista belga.
Sexta vez que vem à Morretes. Já comprou casa e pretende morar em Morretes, diz que o barreado é muito gostoso e, Morretes e Brasil são o paraíso.
Nome: Rose, nascida e residente em Morretes. Morou 26 anos fora de Morretes. Quando voltou viu grandes transformações em Morretes. Diz que o barreado é apenas um complemento da natureza e ao clima que tanto atraem os turistas.
Nome: Marlene
Idade: 40 anos
Residente em Morretes desde 1992. Voluntária da associação do artesanato de Morretes.
O barreado é uma comida típica que foi inventada pelos morretenses, e é diferente dos outros cozidos.
O barreado e a cachaça trazem muitos benefícios, porque muitos empregos são gerados para o povo e ajuda a sustentar a cidade. Os moradores dificilmente comem barreado. Todo o tipo de turistas vem comprar artesanato.
Nome: Rosane
Reside em Morretes há 22 anos
Presidente da associação de artesanato de Morretes. Diz que pela influência do barreado, as vendas do artesanato aumenta e há também mais divulgação.
Para o povo simples, o barreado não interfere em nada.
Nem toda a economia de Morretes é voltada para o barreado e para a cachaça, mas também para a agricultura e cultivo de gengibre, banana, compotas, conservas e reciclagem de papel. O ponto principal de Morretes é a cachaça e o barreado, depois os outros.
Nome: Marco
Idade: 20 anos
Nasceu em Salvador e veio para Morretes há 7 meses, ainda não comeu o barreado. Acredita que o barreado contribui para a gastronomia local, lojas de artesanato.
Nome: Marcel Duszczak
Dono de Alambique. Marcel nos mostrou o processo da fabricação de aguardente, o moer da cana, a fermentação, destilação e a aguardente pronta. Nos informou que a cachaça se divide em três partes, a cabeça, o coração e a cauda. Muitos turistas compram sua cachaça. Anexo ao alambique, existe uma loja, onde, além da cachaça, vende-se farinha, licor e bala de banana. Marcel está tentando resgatar a tradição dos alambiques em Morretes há cinco anos.
Nome: Wilson Malucelli.
Dono de alambique. Nos mostrou o processo de produção de aguardente, e nos disse, que o gosto e a cor da cachaça são dados de acordo com a madeira usada para a fabricação do tambor onde a cachaça é armazenada (a madeira usada em seu alambique é o Carvalho). Nos disse também, que há instrumentos que medem o açúcar, o álcool e a acidez da cachaça (sacarímetro. alcoômetro, mostimetro).
Malucelli vende a cachaça no Município, e espera o registro do Ministério da Agricultura para poder exportar. Segundo ele, na década de 1960, havia aproximadamente 60 alambiques na estrada do Anhaia, sendo que sua decadência aconteceu por vários motivos, uma delas foi devido a burocracia.
Malucelli segue a tradição desde 1877, no município há cinco anos, os produtores tentam resgatar essa tradição.
Nome: Frederico Leal: Diquinho
Dono de alambique. A produção de cachaça começou com o pai de Diquinho. Durante a decadência da produção de aguardente, Diquinho continuou para manter a tradição. Ele planta cana. São produzidos em seu alambique, cerca de cem (100) litros de cachaça por dia. E para atingir cor e gosto, fica em um tonel pequeno de carvalho por seis (6) meses.
Nome: Cléverson
Funcionário do Restaurante Ponte Velha. De acordo com o funcionário, a cachaça e o barreado têm uma importância cultural e econômica. O restaurante tem aproximadamente treze(13) anos.
Nome: Rosângela
Professora da Escola Rural Municipal. A professora nos informou que o barreado e a cachaça têm uma tradição, além da importância econômica.
Nome: Romano
Dono de bar. Possui o bar há mais de vinte(20) anos. Os freqüentadores são sempre os mesmo e costumam ir ao bar no mesmo horário.
O bar é um ponto de encontro, onde se discutem os assuntos: política, economia, futebol, religião, astrologia, etc. Romano disse, que quando um frequentador não vai ao bar, fica faltando algo em seu dia. O bar não é um ponto de venda de cachaça, mas sim, um ponto de ligação entre os freqüentadores.
CONCLUSÃO
Partindo da discussão teórica, analisando o trabalho de campo, conclui-se que: o Barreado e a Cachaça trazem para o povo de Morretes um significado de tradição, em que a maior parte da população sabe como se faz o Barreado e a Cachaça, como se originaram e se desenvolveram estas tradições. Neste aspecto histórico e tradicional, percebe-se não uma sociedade fragmentada, e sim uma relevância na relação do povo morretense com o Barreado e a Cachaça.
Fonte/origem: Referência Bibliográfica.
CASCUDO, Luís Câmara.
Prelúdio da Cachaça - Etnografia, História e Sociologia da Aguardente do Brasil.
Rio de Janeiro, Ed. Itatiaia Ltda,1968.
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A CACHAÇA MORRETIANA:
UMA TRADIÇÃO INVENTADA ??
Autora: Etienne Desireé Meira
Orientadora: Profª dra. Roseli Boschilia
Palavras-chave: cachaça, Morretes, tradição.
As bebidas, assim como a alimentação, sempre foram uma necessidade biológica. Contudo, com a evolução do ser humano, elas foram ganhando outras conotações como de produtos medicinais, objetos de cultos, de oferenda de festas e obviamente, de divertimento. O comer e o beber (e em algumas regiões, o fumar) em grupo, desde a Idade Antiga, constituem práticas de sociabilidade.
Segundo Luís Câmara Cascudo, o ser humano possui duas necessidades/prazeres: o sexo e a comida. Porém, desses, o sexo pode ser sublimado, mas a comida não, sendo então esta a necessidade/prazer essencial do homem.
Se os primeiros contatos do homem com as comidas e as bebidas foram determinados por instintos de sobrevivência, hoje essa relação contém aspectos técnicos e simbólicos que reproduzem valores, costumes e crenças de quem come/bebe.
A motivação para esse estudo se deve, em primeiro lugar, à minha identificação pessoal com o litoral paranaense onde residi por algum tempo. A questão culinária nesta região sempre me chamou a atenção, pois além deste fato se configurar como um dos principais chamarizes turísticos sempre foi motivo de orgulho para os moradores. A motivação se renovou no contato que tive com os conhecimentos sobre a História e Cultura da Alimentação, no curso de História desta Universidade, quando percebi o conceito de que a comida se constitui enquanto categoria histórica, indo além dos valores nutricionais. O alimento, muito mais do que necessidade biológica, é uma temática que pode ser utilizada na História como revelador de muitos aspectos de uma época, de uma região, de uma sociedade. Por fim, como Raul Lody nos descreve em sua obra “Comer é pertencer”: “o valor cultural do ato de comer é cada vez mais entendido como um ato primordial, pois a comida é tradutora de povos, nações, civilizações, grupos étnicos, comunidades, famílias, pessoas”.[1] Visto a importância da alimentação nos estudos, este tema vem ganhando cada vez mais espaço, voz e visibilidade na historiografia. Nesta área crescente no Brasil, encontramos escritos referentes a diversos gêneros alimentícios, principalmente sobre os que têm grande importância na cultura nacional, os grandes presentes na mesa do brasileiro. A cachaça configura-se como um destes produtos, encontrando-se fortemente presente no imaginário do país. Existem textos literários sobre este tema, dos quais muitos foram utilizados na pesquisa. No Brasil, algumas cidades possuem uma relação intrínseca com a produção e consumo desta bebida e logo, podemos usá-lo como objeto e instrumento de pesquisa nestas localidades.
Morretes, situada no litoral do Paraná é uma destas cidades que nos revela uma relação singular e especial com o referido produto, visto que o mesmo está estreitamente ligado à história e ao cotidiano daquela localidade.
Motivada por essa discussão, realizei uma visita à Morretes ao ano de 2008, visando uma primeira coleta de dados. Nesta, acabei por conhecer a senhora Laurice Salomão De Bona, em vigência neste ano no cargo de Secretária Geral da Secretaria de Cultura e Esportes de Morretes. Neste encontro ela me concedeu uma entrevista e alguns documentos (alguns de próprio cunho) arquivados nesta secretaria, que me foram muito úteis posteriormente, como fontes complementares. Esta visita auxiliou a decisão de escolher a cachaça desta cidade como tema da pesquisa.
Guiando as análises, a base teórico-metodológica encontrou-se nos fundamentos da chamada Nova História Cultural. Esta surge ao momento de esgotamento das explicações oferecidas por modelos teóricos globalizantes, com tendências à totalidade, nos quais o historiador era refém da busca da verdade. Essas explicações globais, por sua incapacidade de interpretar novos agentes históricos, passaram, portanto, a ser questionados. A Nova História Cultural revela uma afeição pelo informal, por análises historiográficas que apresentem caminhos alternativos para a investigação histórica, indo onde as abordagens tradicionais não foram.
Um destes métodos alternativos de análise, que aparece com o debate intelectual e historiográfico das décadas de 1970 e 1980 é a chamada Micro-História. Conforme Giovanni Levi cita: "o princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados".[2] Assim, esta nova forma de abordagem agora permite o estudo das práticas mais cotidianas, como a leitura, a alimentação, o vestuário, a habitação, os esportes, as viagens e as coleções e etc. Estas se transformaram em campos férteis de investigação. É na tentativa de seguir este método que utilizei a cachaça, uma bebida popular, considerada barata e por vezes desvalorizada, como o objeto de análise e pesquisa na cidade de Morretes. Toda a produção escrita pode ser efetuada, tendo esta simples bebida como pano de fundo.
A cachaça de Morretes é hoje considerada uma das melhores do país, sendo um dos artigos de maior fama local. Mas de que maneira podemos analisar a cachaça na história de Morretes? Desde quando existem registros de sua produção? A partir de quando e por que a cachaça morretiana ganhou fama e notoriedade.
A análise do trabalho se dá no âmbito histórico e cultural envolvendo a cachaça morretiana.
Temos este produto como consagrado na cidade hoje em dia, conseguindo inclusive certa fama nacional. Mas seria esta notoriedade uma tentativa, utilizando-me dos termos de Eric Hobsbawm, de se inventar uma tradição regional? Pois como o mesmo nos descreve: “Consideramos que a invenção de tradições é essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição”.[4] Hobsbawm ainda frisa o fato que não devemos cometer o equívoco de confundir tradições antigas que ainda se mantém vivas às tradições ditas inventadas: “a força e a adaptabilidade das tradições genuínas não deve ser confundida com a “invenção de tradições”. "Não é necessário recuperar nem inventar tradições quando os velhos usos ainda se conservam”.[5] Este é um grande impasse que a pesquisa visa sanar: a cachaça morretiana é uma tradição atual inventada que se usou de práticas antigas para a sua construção? Ou finalmente, é uma tradição dita genuína que, mesmo passando por seus altos e baixos, se mantém viva ao longo dos anos pelos moradores e visitantes de Morretes? Esta e as outras questões acima citadas se colocaram como problemática para a realização da pesquisa.
Visando discutir estas questões reveladas, a pesquisa foi dividida em três capítulos:
O primeiro capítulo foi denominado “Um pouco da história da cachaça”, por se tratar de um apanhado geral sobre este produto como gênero alimentício e sobre sua trajetória dentro da história da alimentação no Brasil.
Os primeiros livros utilizados neste momento foram os dois volumes de “História da Alimentação no Brasil” e “Prelúdio da Cachaça - Etnologia, História e Sociologia da Aguardente no Brasil”, obras de Luiz Câmara Cascudo, que retratam de forma bem descritiva e completa uma grande trajetória da alimentação no Brasil. Tais volumes me forneceram as primeiras noções sobre a produção e inserção do produto cachaça em nosso país.
Também uso um livro mais específico na pesquisa, de Gilberto Freyre. “Açúcar – Em Torno da Etnografia da História e da Sociologia do Doce no Nordeste Canavieiro do Brasil” é um livro que se baseia principalmente cotidiano nordestino para sua construção. Quanto ao açúcar e a cachaça, o livro forneceu informações estatísticas interessantes para minha pesquisa.
As obras de autores como Henrique Carneiro, Gustavo Acioli e outros também foram essenciais na construção desta primeira parte.
O segundo capítulo, intitulado “A cachaça morretiana”, é o momento em que a pesquisa se situa em seu recorte geográfico, analisando a presença desta bebida no contexto histórico, econômico, social e cultural da cidade de Morretes, no litoral paranaense.
Para este momento, o diálogo com autores como Carlos Roberto Antunes dos Santos se colocou como necessário. Em uma de suas obras utilizadas, “História da Alimentação no Paraná”, o autor nos fala de como se constrói o processo de produção alimentar no Paraná, descreve as crises de abastecimento do Estado, os produtos que aqui se produziam e etc. Também é rico no que se trata de dados estatísticos, sendo-me útil à pesquisa. Ainda como bibliografias fornecedoras de informações essenciais sobre a cachaça em Morretes, temos: “Morretes: 260 anos de memória” de Berenice Mendes, “Porto de Paranaguá: um sedutor”, de Cecília Maria Westphalen (esta constando com relatos das movimentações comerciais envolvendo o produto, o que foi de grande valia para o entendimento da importância econômica do mesmo para o litoral paranaense) e a tese “Vocabulário da Cachaça: resgate e memória”, de Jane Bernadete Lambach (esta última foi esclarecedora ao momento em que trata do vocabulário criado em torno da cultura da cachaça de Morretes. Foi a partir da leitura desta tese que consegui compreender alguns termos específicos sobre o tema, alguns inclusive antigos, esquecidos com o processo de transformação da língua portuguesa), entre outras.
Nesta coleta procurei analisar algumas das minhas questões e hipóteses, porém a busca por fontes se revelou como primordial para que respostas mais conclusivas fossem obtidas. Necessitando comprovar a constante presença da cachaça na vida morretiana e como ela foi configurando-se como um produto de grande importância na mesa, no comércio e na memória desta cidade, busquei como fontes os relatos de diversos viajantes que por lá passaram. Assim, com os registros de Auguste de Saint-Hilaire, Antonio Vieira dos Santos, Robert Avé-Lallemant, Salvador José Correia Coelho Correia, José Gonçalves de Moraes, Nestor Victor e outros, fui obtendo sucesso nas análises de minhas indagações. Além dessas fontes, obtive dados relevantes nos provimentos do ouvidor Rafael Pires Pardinho e em relatos de diversos Presidentes de Província do século XIX.
Neste compilado de informações e dados, encontrei os primeiros relatos sobre alambiques rudimentares da cidade de Morretes datando do início do século XVIII. Ao longo do século XIX, é constatado um gradativo aumento da população nesta região e o conseqüente aumento da produção e consumo de diversos produtos e gêneros alimentícios, inclusive da cana-de-açúcar e da cachaça. A pesquisa revelou que a vinda de imigrantes italianos para Morretes na segunda metade do século XIX, cumpriu importante papel na revitalização da indústria da cachaça. Acostumados com processos mais avançados na produção de vinhos na Itália, esses imigrantes passaram a administrar muitos engenhos e alambiques e incrementaram a produção, melhorando a qualidade da aguardente morretiana.
A partir desta questão da imigração no litoral paranaense e da sua relação com a cachaça chegamos ao terceiro capítulo da pesquisa: “A morretiana dos imigrantes”.
Neste momento, novamente utilizo relatos de Presidentes de Província, que descrevem o processo de ocupação da colônia Nova Itália (situada em Morretes) e como os moradores desta foram se ocupando da fabricação da aguardente. Outras referências bibliográficas também foram interessantes na construção desta fase da pesquisa, como “Lamenha Lins e o Engenho Central de Morretes”, de Ayrton Ricardo dos Santos e “A imigração Italiana em Morretes”, de Lúcio Borges.
Para a discussão do 3º capítulo, o estudo do conceito de apropriação tornou-se necessário.
Chartier, numa das proposições para a construção de uma história cultural, nos descreve este conceito (formulado inicialmente por Michel de Certeau), que define o consumo cultural como uma operação de produção que, embora não fabrique nenhum objeto, assinala a sua presença a partir das maneiras de utilizar os produtos que lhes são impostos.[6]
A apropriação, utilizada como instrumento de conhecimento para a “cultura popular”, nos leva a considerar que o leque das práticas culturais é um conjunto de práticas diversas, porém equivalentes. Para a construção desta “cultura popular”, temos os mecanismos da dominação simbólica, cujo objetivo é tornar aceitáveis, pelos próprios dominados, as representações e os modos de consumo.[7]
Com base na reflexão acima, pode-se questionar: a questão da produção da aguardente, ao ser continuada e reavivada pelos italianos, teria sido uma apropriação? Mais uma questão a ser respondida pela pesquisa. Também utilizo outras fontes de informação que contribuíram em algum momento para a pesquisa como jornais, revistas, artigos de Internet e outros documentos.
Neste aspecto destaco o site oficial da cidade de Morretes (www.morretes.com) que traz o artigo “A Cachaça no Imaginário Morretense” e o do Museu da Cachaça Brasileiro (www.muca.com.br), que trouxeram informações visuais e estatísticas complementares.
Ao longo da pesquisa, percebeu-se que quase a totalidade destes dados coletados confirma a constante presença da cachaça na vida e na história de Morretes. Relatos de consumo e produção por moradores da região, dados oficiais que mostram a preocupação que as autoridades possuíam em regulamentar a atividade de produção, exportação e importação e ainda o interesse que este produto exerceu nos imigrantes, especialmente os italianos, nos revela a importância e a influência que a cachaça sempre exerceu em Morretes.
Desta forma, procurei responder a um dos primeiros questionamentos levantados na pesquisa: a cachaça morretiana seria ou não uma tradição inventada? A análise das fontes mostrou que a cachaça é uma tradição genuína - como quer Hobsbawm - ou seja, uma filha desta terra. O que se percebe é que a fama conquistada hoje em dia não se deveu a uma atitude forçada de se colocar em pauta a cachaça morretiana. Este sucesso pode até ter sido revigorado devido aos esforços de produtores modernos, porém essa fama não existiria se não fosse o papel que esta bebida desempenhou, no plano econômico e cultural, ao longo de aproximadamente três séculos.
Por fim, é possível afirmar que a morretiana não é uma tradição inventada, mas sim uma tradição genuína, forte, que resistiu ao longo dos anos, adaptando-se às transformações da modernidade sem perder a sua simplicidade, autenticidade e significado cultural.
Ainda nesta parte final, podemos sim atribuir este aprimoramento da cachaça ao momento em que os alambiques passam a ser, em sua maior parte, administrados por italianos. Os relatos comprovaram a ligação do reeguimento desta prática como importante atividade econômica na cidade assim como a melhora da qualidade da cachaça ao braço imigrante que se instalou em Morretes. Considero que realmente aconteceu uma apropriação desta cultura popular, em particular pelos imigrantes italianos, a partir do fim do século XIX, que passam a fazer este produto ser item constante na mesa das famílias e importante fonte de rendimento para as mesmas.
Teriam se aproveitado da região propícia e de seus conhecimentos e dons no fabrico de bebidas para reanimar um comércio que tinha um grande potencial de crescimento, pois muitos caminhos estavam se abrindo no Paraná, comunicando-o nacional e internacionalmente e a população estava em crescente aumento com a chegada dos imigrantes europeus nesta região.
Assim estava aberto o caminho para a prosperidade da cachaça morretiana nos próximos anos.
[1] LODY, Raul. Comer é pertencer. In ARAÚJO, Wilma Maria Coelho e TENSER, Carla Márcia Rodrigues (orgs). Gastronomia: cortes e recortes, vol. I. São Paulo, SP: SENAC, 2007, p. 144.
[2] LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In BURKE, Peter. A escrita da história. São Paulo, SP: UNESP, 1992, p. 139. 3 O termo se refere à cachaça produzida em Morretes, ganhando popularidade e difusão com o passar do tempo.
Atualmente, devido à fama conquistada, morretiana ou morreteana tornaram-se sinônimos de cachaça (segundo os dicionários Aurélio e Houaiss). [3]
[4] HOBSBAWM, Eric & RANGER, Terence (org.). A invenção das tradições. 2a ed. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1997, p. 13.
[5] Ibidem, p. 16.
[6] CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990, passim.
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A cachaça morretiana e seus usos turísticos na contemporaneidade.
Por Etienne Desireé Meira.
Resumo:
A partir das últimas décadas do século passado, ocorre uma expansão comercial e turística na cidade de Morretes, localizada no litoral do estado do Paraná. Um dos principais fatores para tal expansão é a valorização do setor gastronômico, que coloca as comidas locais, como a cachaça artesanal (conhecida na região por morretiana), em evidência. Essa última passa, a partir de então, a ser vista como um importante patrimônio cultural e chamariz turístico. É com base nessa situação e através de estudos de fontes, bibliografias e observações feitas em visitas de campo que objetiva-se vislumbrar alguns dos vínculos estabelecidos entre a gastronomia, o turismo e o patrimônio cultural, tomando-se como base de estudo a morretiana e como ela vem sendo item essencial nos processos de transformação e crescimento econômico da cidade, que procura se inserir como destino importante nos roteiros turísticos da contemporaneidade brasileira.
Palavras-chave: Cachaça morretiana, Morretes, Patrimônio cultural.
O presente artigo visa discutir essa questão, tomando como base o estudo de caso da cidade de Morretes, situada no litoral paranaense. Pretende-se discutir a relação existente a cidade e o uso turístico de seus patrimônios culturais, especificamente de um produto da sua gastronomia: a cachaça artesanal produzida em seus engenhos. Patrimônio este que é material, imaterial e capital cultural. Para tal, apresentam-se algumas considerações sobre a tríade patrimônio cultural, gastronomia e turismo, também um breve histórico da produção de cachaça no Brasil e, posteriormente, na cidade, bem como as transformações em direção ao turismo gastronômico ocorrido nesse município paranaense.
Um pouco da cachaça no Brasil.
A cachaça é reconhecida internacionalmente como um produto tipicamente brasileiro, devido ao seu histórico de produção e ao crédito da invenção dessa bebida estar associada ao Brasil. A bebida que hoje conhecemos como cachaça surge no período canavieiro, com a ideia de se destilar o caldo de cana produzido na moagem, que era sujo e às vezes azedava.
Segundo o que é relatado nas visitas feitas ao Museu do Homem do Nordeste (em Recife, Pernambuco), jogava-se o caldo da cana num tacho e levava-se ao fogo mexendo sem parar, para que se formasse o melado. Por vezes, o ponto deste melado desandava e este produto era deixado de lado. Depois de algum tempo, este caldo azedava. O caldo azedo e sua espuma feculenta e abundante eram chamados de cagaça ou cachassa (ASSOCIAÇÃO..., [s.d.]). Os relatos da criação deste vinho3 de cana-de-açúcar datam de 1532 a 1548, na Capitania de São Vicente, servindo de alimento para os animais (PORTAL SÃO FRANCISCO, [s.d.]). Posteriormente, começou a ser fornecido aos escravos. Pyrard de Laval 4, em 1610, estivera na cidade de Salvador e registrou: Faz-se vinho com o suco da cana, que é barato, mas só para os escravos e filhos da terra. (PYRARD DE LAVAL apud CASCUDO, 1986, p. 15).
A denominação cachaça para uma bebida de base alcoólica não era comumente usada entre os séculos XVI e XVII. Neste período, o nome mais corriqueiro para a bebida eram os termos garapa azeda ou doida. (ALGRANTI, 2005). Ao longo do século XVII, outro nome costumeiro entre os portugueses para denominar a cachaça era jeribita ou geribita. (CASCUDO, 1986, p. 21).
Os destilados se tornam produtos de fácil acesso apenas na época moderna, a partir do século XVI. Antes disso, o álcool destilado (inclusive a aguardente) era visto como um raro e precioso remédio (CARNEIRO, 2006, p. 4).
As primeiras destilarias de cachaça surgem, no Brasil, entre os séculos XVI e XVII. Esta fabricação, tão cedo instalada, concede uma aura de competência aos profissionais de alambiques, pela fama de boa qualidade que este produto conquistava por onde era divulgado.
Apesar disto, a cachaça consolidou-se como um produto de baixo status econômico. Sua própria distribuição, venda e consumo muitas vezes se deu às margens da lei ou em pequenos estabelecimentos, agregando, em síntese, os marginalizados do sistema.
Esse produto passa a ser valorizado apenas no início do século XX, com a Semana de Arte Moderna acontecida em 1922, quando alguns modernistas tomaram a cachaça como um símbolo de brasilidade.
Um pouco da cachaça em Morretes.
A cidade de Morretes está situada no litoral paranaense, na encosta da serra do mar, limitando-se com os municípios de São José dos Pinhais, Piraquara, Quatro Barras, Campina Grande do Sul, Antonina, Paranaguá e Guaratuba. Está a 73 quilômetros de distância da capital Curitiba. Todas as divisas municipais são formadas por acidentes geográficos, sendo que a área é rodeada por rios, espigões e serras. Apesar de situar-se no litoral, Morretes não é banhada pelo mar. Sua área compreende 685 quilômetros quadrados e seu clima consta como tropical superúmido, de média anual de 25º Celsius.
Por sua riqueza natural, a região de serra do mar contida em Morretes foi tombada pelo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná em 1986 (SECRETARIA..., [s.d.]). Já em 1991, foi a vez da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhecer a parte da região como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em função de seu patrimônio ecológico (UNESCO, [s.d.]). Por isso mesmo, somente 30% da área total do município de Morretes podem ser ocupados e ter uso residencial ou empresarial.
A história do reconhecimento deste território data do século XVI, devido a uma série de expedições empreendidas tanto por portugueses quanto por espanhóis. Devido à comunicação com o oceano Atlântico, o litoral paranaense configurou-se como um importante entreposto comercial para o Brasil Colonial. Morretes foi um dos primeiros núcleos populacionais do Paraná.
As principais atividades na região até meados do século XIX foram a extração de ouro, o cultivo de erva-mate (uma das atividades mais prósperas da cidade) e a agropecuária, além de um pequeno plantio de cana-de-açúcar (BONA, [s.d.]b).
De Paranaguá, os exploradores subiam o planalto à cata do ouro no século XVII. Morretes chegou a ter algumas jazidas de destaque na vida econômica paranaense. Mesmo na fase de decadência desta economia, a maioria dos que já haviam se instalado continuaram na região, pois durante esta fase surgiu uma pequena agricultura e criação de gado bovino, que abastecia os arraiais e vilas que se constituíram próximas dali (LICCARDO; SOBANSKI; CHODUR, 2004, p. 48). Já no início do século XIX houve o florescimento de uma economia baseada na produção da erva-mate (BONA, [s.d.]a).
Encontrando terras férteis, solo de massapé e clima favorável, assim como a erva-mate, a cana-de-açúcar foi aos poucos ganhando espaço nas lavouras morretenses. Junto aos engenhos de açúcar, era comum a presença de pequenos alambiques de aguardente, para se aproveitar a produção de cana já existente (BONA, [s.d.]b).
Os primeiros relatos da existência de alambiques rústicos de aguardente em Morretes datam do século XVIII. Durante o século XIX, foram abertos ou melhorados alguns caminhos que passavam por Morretes, otimizando a rapidez e maior circulação de mercadorias, como a Estrada da Graciosa (ligando Antonina à capital Curitiba), o Caminho do Cubatão (ligando Morretes a Paranaguá) e mais tarde a Estrada de Ferro, ligando o Porto de Paranaguá a Curitiba (W ESTPHALEN, 1998, p. 35 e 37).
Tal fator influenciou no aumento da produção e do comércio de gêneros no litoral paranaense, inclusive da de aguardente de Morretes.
Outro fator a se destacar nesse período é que, devido ao crescimento do comércio e exportação de erva-mate, atraiu-se um crescente número de tropeiros para a região. Muitos deles acabavam também transportando aguardente, divulgando cada vez mais o produto e o uso deste (SANTOS, 1950, p. 27). Os produtores de aguardente se aproveitavam do embalo econômico para irem aprimorando suas propriedades.
É só a partir da segunda metade do século XIX que essa atividade intensifica-se e ganha importância econômica, período em que a cidade recebe uma grande massa de imigrantes italianos, fruto das políticas públicas e privadas de incentivo à imigração europeia da época (realizadas devido à necessidade de arrecadação de mão de obra, visto a decadência da escravidão no País e sua posterior abolição). Isso acontece porque boa parte desses imigrantes chegam trazendo conhecimentos diversos sobre destilaria e fermentação, além de técnicas de metalurgia em cobre (usadas na construção das tinas e alambiques de fermentação e destilação), o que alavanca a qualidade da aguardente da região e começa a inseri-la no mercado nacional.
Os imigrantes foram, em sua maioria, instalados na colônia denominada Nova Itália, em Morretes. No ano de 1878, foi noticiada a construção do Engenho Central, no centro desta colônia, que deveria trazer prosperidade para esta, produzindo açúcar e aguardente, contando principalmente com a matéria-prima produzida pelos próprios colonos desta comunidade (SANTOS, 2007, p. 15).
A produção de cachaça em Morretes continuou sendo dominada pelos italianos e seus descendentes até meados de 1940. É nessa mesma década que o Engenho Central cessou a sua produção. Essa atividade, assim como outros setores da economia da cidade, sofreu uma crise, que será superada apenas aos finais dos anos 1980, quando o município voltará suas atenções para a área turística, colocando em evidência as suas belezas naturais e seus patrimônios gastronômicos: o barreado e, novamente, a cachaça.
Sobre o turismo rural em Morretes.
Hoje em dia, Morretes é famosa como ponto turístico paranaense. Seus atrativos são vários. Os turistas são convidados a visitarem seus rios rodeados pela flora e fauna da Mata Atlântica preservada, os seus casarões históricos circundados pelas feirinhas de artesanato e, principalmente, os seus restaurantes, para provarem a sua gastronomia típica, composta pelo prato chamado de barreado, acompanhado de uma dose de cachaça morretiana.
Percebemos que o município de Morretes antecipou-se a esses reconhecimentos oficiais, internacionais e nacionais, da alimentação como um bem cultural e turístico. Na verdade, podemos pensar que os reconhecimentos oficiais vieram apenas para selar a constatação da importância da gastronomia como um patrimônio, pois esse é um fenômeno que já estava acontecendo em vários territórios brasileiros.
Como já citado anteriormente, os primeiros esforços no sentido de introduzir a cidade de Morretes num cenário turístico nacional se deram nas gestões que administraram a cidade no fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990. Essa data não é fruto do acaso, pois no início de 1989 ocorreu uma enchente que inundou a cidade e destruiu boa parte da economia local, que até então se baseava na agricultura. Tal fato forçou os gestores públicos dos anos seguintes a tomarem medidas políticas fortes, objetivando uma recuperação rápida da cidade, mesmo que isso significasse a mudança de seu eixo econômico e comercial (GIMENES, 2011, p. 169-170).
Esse centro histórico, onde se concentram além dos restaurantes, lojas de artesanato e outros comércios, é um local que agrega fácil localização e acesso, uma bela paisagem natural (constituída pelo rio Nhundiaquara e pela Mata Atlântica no entorno), casarões históricos, calçadas de pedra, entre outros itens. Porém, a maioria dos engenhos de produção de cachaça não se localizam neste centro. Eles estão espalhados pela área rural do município, permeados por estradas de chão batido. O que podemos encontrar no centro histórico e comercial é apenas a morretiana já engarrafada, pronta para o consumo. Os seus locais de produção ainda não configuram parte do cenário patrimonial turístico da cidade, mas alguns esforços já estão sendo feitos no objetivo de se transformar essa situação.
Morretes é considerado o mais tradicional produtor de cachaça do Paraná, pelo seu longo histórico de produção de bebida que já pudemos observar anteriormente, possuindo, atualmente, cerca de vinte produtores artesanais. Dentre eles, existem engenhos que já estão preparados para o turismo, pois recebem visitantes e o fazem de forma bastante satisfatória. Algumas dessas unidades de produção são anteriores ao boom gastronômico da cidade, mas aproveitaram-se desse momento para revitalizarem suas propriedades e alavancarem seus negócios. Outras surgem depois desse momento, instalando-se em Morretes na década de 2000, com a economia em volta da cachaça já consolidada. Esses últimos aproveitam a oportunidade para investirem em tecnologias mais modernas de produção, trazendo uma heterogeneidade interessante para a produção da morretiana.
Notas
* Etienne Desirreé Meira: Graduada em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade pela Universidade da Região de Joinville (Univille).!
Fenômeno que Claude Fischler, Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari chamam de Mc’Donaldização dos costumes (FLANDRIN; MONTANARI, 1998).2 FISCHLER, Claude. L’hom nivore. Paris: Poche Odile Jacob, 2001.3
Existem vários tipos de vinhos pelo mundo: de uva, de arroz, de milho, de leite, de azedo de palmeira, de agave, etc. Também inúmeras aguardentes: do bagaço da uva, do mel da cana (cachaça), de caju, de raízes de pimenta, entre outras.4
François Pyrard de Laval foi um navegador francês que visitou diversas regiões do mundo, inclusive a costa brasileira, entre fins do século XVI e começo do século XVII.5
Massapé é um tipo de solo de cor bem escura, quase preta, encontrado em algumas regiões litorâneas brasileiras. É um solo muito fértil e, portanto, excelente para a prática da agricultura.
No período colonial, foi muito explorado na agricultura de cana-de-açúcar. O massapé tem em sua composição uma elevada presença de argila (SUA PESQUISA, [s.d]).6 Morretiana ou morreteana são os termos usados como referência à cachaça artesanal produzida na cidade de Morretes (PR). O termo ficou tão conhecido que já consta em vários dicionários.
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A cachaça no imaginário morretense
Trabalho apresentado à disciplina de Antropologia do Curso de Psicologia.
Prof° Gilberto Gnoato
Equipe: Liomar Furquim, Márcia Regina Skorupa, Mariana Betta Lobato, Paola Schubert, Rafaela Celinski, Sophia de Lima Chessio e Stephanie Consentino.
1 – DISCUSSÃO TEÓRICA
Com o auge da produção de açúcar em todo o Brasil foram decretadas as implantações de engenhos centrais em determinados pontos do país. Um destes foi introduzido na cidade de Morretes.
O engenho central de Morretes foi implantado na Colônia Nova Itália, com o apoio do poder público, (pode contar com a quantia inicial de 100 contos de réis destinada ao seu engenho). Estabelecido um contrato com os colonos da nova Itália estes deveriam produzir a cana e vendê-la somente ao engenho central (BORGES, 1984).
O engenho central de Morretes foi implantado na Colônia Nova Itália, com o apoio do poder público, (pode contar com a quantia inicial de 100 contos de réis destinada ao seu engenho). Estabelecido um contrato com os colonos da nova Itália estes deveriam produzir a cana e vendê-la somente ao engenho central (BORGES, 1984).
Descontentes com o baixo preço que recebiam pela cana-de-açúcar e por considerar o trabalho quase que escravo decidiram suspender a venda de cana ao engenho central e pediram a construção de um engenho de aguardente, pois a colônia possuía estrutura para o tal. Foi assim que surgiram os engenhos de alguns imigrantes. A decadência do engenho central iniciou-se com a morte do seu dirigente, e com a visita de D. Pedro II que questionou a qualidade da cana do nosso litoral. Daí para frente passou a depender da ação empreendedora dos italianos que inicialmente dedicaram-se a produção de aguardente (BORGES,1990).
Os pequenos produtores de aguardente começaram a concentrar-se por toda a região, a maioria ao redor do Anhaia e ali instalaram-se e desenvolveram seus alambiques passando a produzir a famosa cachaça morretiana. Nessa época, Morretes, possuía por volta de 40 engenhos de aguardente e sua cachaça foi se popularizando por todo o país, representando a grande parte da economia da cidade e influenciando diretamente na cultura dos nativos. Mesmo com uma forte influência econômico-cultural os engenhos de aguardente também não resistiram a falta de mão-de-obra, de água, altos impostos, passando a dedicar-se a novas culturas (maracujá e gengibre) (BORGES,1990).
Hoje a cana é praticamente extinta em Morretes, e seu nome utilizado para rotular as cachaças vindas de São Paulo. Mesmo com uma excelente geografia e com sua cachaça já considerada uma das melhores do Brasil, toda a história e o engenho morretense estavam sendo totalmente perdidos, mas graças a implantação de novos projetos e grandes perspectivas, hoje há uma visão de reciclagem e desenvolvimento da “velha cachaça morretiana” (SCUCATTO, 2001).
A cachaça como cultura e elo de integração:
“Em Morretes, cachaça não é droga. O conceito de droga é muito mais amplo que a sua farmacologia e não está limitado apenas aos parâmetros biológicos. Fato é que ao desprender a droga de um conceito orgânico, remete-se sua discussão aos parâmetros sociológicos e culturais” (GNOATO, 2001).
“As drogas produzem um efeito de exclusão social, e desintegração cultural, droga não faz parte da nossa cultura. O que caracteriza a microrregião do litoral paranaense é justamente o seu caráter relacional, todos se relacionam com todos e com certeza quando é preciso "quebrar o gelo" de uma visita inesperada, nada melhor do que a magia de um bom gole de cachaça para relaxar qualquer tipo de frieza” (GNOATO,2001).
“Não se pode perder de vista que a cachaça é um forte elemento cultural da nossa região. Se a função da cultura é estabelecer um elo de ligação entre os indivíduos, é pela cachaça que se chega a uma conversa saudável. Depois, fuma-se um palheiro, bebe-se mais uma pinga e toma-se um cafezinho. Este é o ritual da solidariedade morretense, porque em Morretes, cachaça não é droga” (GNOATO, 2001).
Ali se reúne uma variedade de pessoas, cada grupo com seus costumes. É a turma do futebol do sábado. Ao menos eles dizem que jogam bola. Pouco mais adentro, na ponta de entrada do balcão, ficam aqueles que gostam de estar entre o público e o privado. Normalmente são eles os mais simpáticos. Amigos de quem passa pela rua e de quem entra no bar. A parte central do balcão fica para o atendimento daqueles fregueses que não bebem muito. É a parte neutra do estabelecimento. A ponta dos fundos, já em meio a uma certa penumbra, é o lugar da reflexão. É a parte privada do bar. Ali se concentram os críticos. Não fazem questão de serem cumprimentados pela exterioridade, já que suas conversas estão voltadas para dentro (GNOATO, 2001).
Neste lugar eles destituem o presidente, assumem a prefeitura e transam com as mulheres mais bonitas da cidade. Normalmente eles estão de costas para fora. Não querem saber do mundo, ou melhor, não vivem o mundo. Lá pelas tantas, acabam todos abraçados na garrafa. Ir a este bar, não deixa de ser uma aprendizagem antropológica. É um verdadeiro ritual, pois todos os dias, no mesmo horário, lá estão as mesmas pessoas com as mesmas conversas. Através da repetição, os ritos servem para reforçar o comportamento social e os costumes de uma cultura. Para que melhor do que samba, cachaça e futebol (GNOATO, 2001).
Segundo GNOATO (2001), que particularmente vem desenvolvendo um importante trabalho de resgate e conscientização cultural na cidade de Morretes, a sociedade morretense iludida com o falso desenvolvimento está deixando perder seu grande valor histórico-cultural. Os engenhos para muitos, hoje não passam de um fato histórico que perdeu-se em ruínas. Entretanto toda sua contribuição cultural e perspectiva econômica deixada por eles, estão presentes nas casas através de quadros, artefatos e na memória dos nativos, nos quais os engenhos desencadearam toda sua cultura que deixou marcas. Hoje a cana é praticamente extinta no município de Morretes e seu nome utilizado para rotular as cachaças vindas de São Paulo. Mas graças a um grande trabalho que vem sendo desenvolvido na cidade há possibilidade de ocorrer o resgate da cultura e a conscientização da verdadeira importância, não só dos engenhos e seu produto, mas de toda a história da cidade que não pode deixar para trás seus vestígios culturais e tradição, devido ao inserimento de uma modernidade ilusória.
2 – QUESTÃO DE PESQUISA
A representação social da cachaça nas famílias tradicionais produtoras de aguardente, comparada à representação social da cachaça nas famílias de novos produtores de aguardente do município de Morretes.
3 – RELEVÂNCIA OU JUSTIFICATIVA
O Governo Federal nos últimos anos incentivou o plantio da cana-de-açúcar. Esta estaria designada, não só para a fabricação dos produtos básicos extraídos da cana, como álcool e açúcar, mas também para a produção de aguardente. Visando restaurar o nome já obtido pela aguardente em todo o Brasil, o Governo Federal lançou uma lei para motivar os produtores a voltarem a produzir.
Diante disso a história da cachaça se refaz, apontando para algumas regiões brasileiras que tiveram principal destaque, como por exemplo, em Minas Gerais, onde a tradição da cachaça já é reconhecida em todo o Brasil. Morretes, dentro desse contexto, apresenta-se como um dos promissores produtores de aguardente. Segundo Maurício Scucato, produtor e morador da cidade, a amostra de aguardente de Morretes foi apreciada por um conselho existente em Minas Gerais, que considerou-a a 2ª melhor cachaça do Brasil.
O presente trabalho partiu do princípio que Rocha Pombo no governo, em que foi Deputado Estadual (1912), auxiliou os produtores da cachaça em Morretes, que tinham na época mais de 40 engenhos de aguardente, e produzia cachaça para todo o país. Morretes tornou-se a “terra da cachaça”, sendo o principal ponto de referência quando ratava-se de aguardente.
Buscando a história da cachaça morretiana e todas as vicissitudes a que ela foi submetida, pretende-se trabalhar a situação atual e as perspectivas dos novos produtores.
Daí a importância do estudo, considerando que a produção da cachaça de Morretes não é apenas um fator de recuperação econômica, mas um fator de recuperação identitária, já que a aguardente recupera as referências ancestrais de toda uma época e um lugar.
4 – PRESSUPOSTOS
Pressupõe-se que existam duas forças atuando sobre a cachaça morretiana. A primeira seria a força econômica, mostrando o vestígio de toda uma história, de onde Morretes vivia sob uma potencialidade financeira. E a segunda, viria de uma força com conotação cultural, de unidade social, uma vez que a aguardente está presente como um elo de ligação entre os indivíduos, pela tradição e o pelo seu sentido simbólico, que se faz presente entre os morretenses.
Através de um trabalho realizado no ano de 2001 para disciplina de Antropologia Social e Cultural, sob orientação do professor Gilberto Gnoato, e deste trabalho também, orientado pelo referido professor pressupõe-se que a aguardente esteja visivelmente inscrita no imaginário morrentense, por ter sido Morretes já Ter sido uma das maiores produtoras de aguardente, chegando ser conhecida como a “terra da cachaça”.
5 – OBJETIVOS
5.1 - Objetivo Geral:
- Focalizar a representação social da cachaça nas famílias tradicionais morretenses e as perspectivas dos novos produtores.
5.2 - Objetivos Específicos:
- Identificar novas perspectivas e visões no imaginário morretense, com a retomada da produção de aguardente no município.
- Identificar a presença dos vestígios culturais da cachaça nas tradicionais famílias produtoras de aguardente, buscando artefatos, documentos e outros vestígios que representem culturalmente a simbologia da cachaça no universo morretense.
6 – METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado com a utilização, da observação participante. Como instrumentos foram utilizadas aplicações de questionários. A construção do questionário e definição das perguntas que seriam utilizadas foram extraídas de um projeto piloto, dividido em duas categorias:
Produtores tradicionais e novos produtores de cachaça em Morretes formaram as categorias necessárias para a realização do projeto piloto. Perguntas referentes à representação social da cachaça dirigida aos produtores em seus alambiques foram suficientes para a coleta dos dados necessários e para a construção das perguntas posterior para a pesquisa em si, que fizeram parte do questionário.
A aplicação do questionário de pesquisa destinou-se a três categorias distintas: turistas, estudantes do Ensino Médio, residentes na cidade de Morretes e adultos acima de 45 anos, também moradores de Morretes. Foram preenchidos 80 questionários com turistas, 80 com estudantes do Ensino Médio e 80 com adultos acima de 45 anos, num total de 240 questionários. Os turistas foram abordados no SESC (Serviço Social do Comércio), pelos funcionários do setor de turismo, momentos antes de uma excursão ao litoral paranaense. Os jovens, estudantes do Colégio Estadual Rocha Pombo, da cidade de Morretes, preencheram o questionário nas salas de aula com o direcionamento da coordenadora do colégio. Os adultos foram abordados nas ruas e no comércio de Morretes pelas integrantes da equipe.
O processo de investigação, que consistiu na elaboração de um projeto piloto, entrevistas, observações frente aos artefatos existentes, deu suporte suficiente para a construção e aplicação de questionário, tornando possível à realização da análise de dados, essencial para a conclusão do trabalho.
7 – ANÁLISE DOS DADOS
7.1 - Questionário aplicado a jovens estudantes do Ensino Médio que residem na cidade de Morretes;
7.2 - Questionário aplicado a adultos acima de 45 anos, moradores da cidade de Morretes;
7.3 - Questionário aplicado a turistas da cidade de Morretes.
8 - CONCLUSÃO
Morretes, como o próprio nome expressa, é uma cidade rodeada de morros, aos quais caracterizam sua beleza natural. Já chamada de Menino Deus dos Três Morretes, a cidade é repleta de belezas naturais, cultura e tradição.
Pode-se comprovar que a valorização da imagem paisagística está introduzida não só no dia a dia das pessoas, mas faz parte da concepção ideológica de cada um, principalmente nos jovens, que através da primeira questão (aberta) do questionário, preocuparam - se em evidenciar a importância que designada a natureza local.
Engajados pelo momento político, vivenciado no período da aplicação dos questionários, muitos manifestaram seu descontentamento e a preocupação pela falta de emprego na cidade, apontado números significativos, comentados nas análises dos dados.
A tranqüilidade, fator mais evidenciado pelos adultos, que vivem na cidade, parece estar ameaçado, quando o assunto é aguardente. Devido a decadência vivida pela cachaça, esta estava perdendo-se no tempo juntamente com sua estória e tradição, fazendo com que os moradores, principalmente adultos ficassem sem uma boa referência em relação a cachaça, restando o pensamento de que ela não recupera nada e principalmente direciona os jovens, muitas vezes seus filhos e netos, para o "mal" caminho. Entretanto quando fala-se sobre a venda da cachaça, a grande maioria prefere apenas fazer a divulgação nas cidades próximas e com o tempo no Paraná, mostrando a preocupação em preservar seu produto dentro do estado.
Os turistas por estarem envolvidos pelo dia - a - dia das grandes cidades, acreditam que a melhor opção é a exportação, evidenciando a influência que elas ,as grandes cidades exercem sobre os indivíduos e grupos que nela atuam. Com os processo de globalização em que o mundo está aderindo e o livre comércio de seus produtos, sempre em busca de recursos econômicos, ou seja, visando o lucro torna-se evidente a preferência pela exportação já que este seria um método mais rápido e fácil para atingir os objetivos.
Conhecida como "terra do barreado", em Morretes este fato não se comprova, não por não ofertarem a comida típica, pois esbanjam de restaurantes e boa comida, entretanto, os jovens e adultos entrevistados, moradores da cidade, não lembram de barreado quando perguntamos sobre a primeira coisa que lhe vem a cabeça quando o assunto é Morretes. Em contrapartida eis que surgem os turistas que entre os 80 entrevistados, um pouco mais que a metade lembra-se de Barreado, mesmo que nunca tenha experimentado ou ido até a cidade, conforme nos foi relatado no momento da pesquisa.
Enfim, com o contínuo desenvolvimento do trabalho de pesquisas e as entrevistas que definiram a elaboração do questionário aplicado, foi possível comprovar que por de trás da resposta de cada um existe um pano de fundo que caracteriza toda a história e pontos principais da cidade de Morretes, e que mesmo inconscientemente as pessoas demonstram essa internalização de uma cidade rodeada por tradição cultura e ao mesmo tempo a modernidade.
9 - Referências Bibliográficas
BORGES,L. O Marumbi por testemunha. 18°ed. Paraná: O formigueiro, 1984.
BORGES.L. A Imigração Italiana em Morretes. Paraná: O formigueiro, 1990.
GNOATO, G. Citação de referencial e documento eletrônico.
Disponível em http://www.morretes.com.br.
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Cachaça: a legítima morretiana
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Priscila Forone - Gazeta do Povo
PRODUÇÃO
Cachaça: a legítima morretiana
Berço da cachaça: Morretes é responsável por 10% da produção total da bebida no Paraná.
25/11/2011 - CINTIA JUNGES, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO.
A tradição de Morretes na produção da genuína cachaça brasileira rendeu fama e reconhecimento que foi parar até no dicionário. No Aurélio, o verbete morretiana é sinônimo da bebida, típica do Brasil. Não é à toa. Registros históricos comprovam que a cachaça começou a ser produzida no município no século 18.
O auge da produção, porém, foi no século 20, na década de 1940,quando havia mais de 40 engenhos. Hoje, com 15 alambiques, Morretes lidera a produção de cachaça no litoral e contribui com 10% de toda a produção paranaense, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Cachaça Artesanal do Paraná e diretor comercial do Alambique Porto Morretes, Fulgêncio Torres Viruel.
A bebida que sai dos alambiques de Morretes – cerca de 400 mil litros por mês –, é destinada ao mercado consumidor nacional e internacional como, por exemplo, a cachaça orgânica da Porto Morretes, exportada para os Estados Unidos, Canadá e Suíça. A empresa, que em 2004 reativou um alambique do século 18, decidiu agregar valor ao produto e investiu na produção de cachaça orgânica.
Todo o processo de produção – do plantio da cana-de-açúcar até o envasamento final da bebida – é feito sem a utilização de produtos químicos. Luciane Fernanda Rosa, que trabalha no local, explica que até o fermento adicionado ao caldo para a fermentação é natural, feito com fubá amarelo, farelo de arroz e limão. Para Viruel, o segredo da legítima morretiana “está na combinação entre as antigas técnicas artesanais de fabricação da bebida e a modernização da produção, que é totalmente adequada aos padrões de qualidade exigidos”.
Feita com o coração, como é chamada a parte nobre do caldo fermentado, a cachaça final é branca e leva o nome de prata. Entretanto, a especialidade do alambique centenário da Porto Morretes é a cachaça ouro, envelhecida em barris de carvalho.
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A cachaça orgânica de Morretes
por Bruno Rezende.
A cidade de Morretes sempre foi famosa pela tradição na produção de cachaça, que data de 1700. O empresário Fulgêncio Torres resolveu unir toda a tradição local dos antigos engenhos com a alta tecnologia de produção da bebida para criar uma cachaça orgânica. Cada parte do processo de produção da cachaça Porto Morretes é rigorosamente controlada, desde o plantio da cana-de-açúcar – livre de agrotóxicos – até o produto final, garantindo um produto puro, saboroso e certificado internacionalmente no mercado mundial de produtos orgânicos.
Abaixo segue uma entrevista feita com o empresário pela TV local.
É um vídeo bem explicativo que mostra o processo produtivo de uma cachaça orgânica:
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial
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Cachaça é mais um produto típico de Morretes
por Cintia Vegas
Publicação: 21/01/2011
Atualizado: 19/01/2013
Loja de cachaça - Alambique Sítio do Campo - Morretes |
Exposição de cachaça - Gnatta |
Moinhos Gnatta - Um dos moinhos, considerado o mais antigo do Paraná, produz a bebida há mais de 100 anos - a cana é moída em moenda de ferro. |
O barreado e a bala de banana não são os únicos produtos típicos de Morretes, no litoral do Estado. A cidade também vem ficando famosa pela fabricação de cachaça, sendo que a atividade já é considerada um atrativo turístico. A produção anual é de 100 mil litros da bebida, preparada em um total de 15 engenhos.
(Foto de Anderson Tozato)
Sueli Gnatta: quarta geração, e primeira mulher na produção.
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Um dos mais famosos é o moinho Engenho da Serra, localizado na região do Marumbi e comandado, há exatos 101 anos, pela família Gnatta, de origem italiana. O local produz 10 mil litros por ano de cachaça de cana e é considerado o mais antigo engenho do Paraná ainda em funcionamento.
“Também somos o único moinho não elétrico de Morretes, movimentado por roda d’água. O negócio foi iniciado em 1910, por meus bisavós, que vieram da Itália em 1891. Passou para meus avós, depois para meus pais e agora para mim. No futuro, espero que seja tocado por um de meus filhos, sendo que o mais novo já vem demonstrando interesse em dar sequência à atividade”, diz a proprietária do engenho, Sueli Gnatta, que é a primeira mulher na família a produzir cachaça.
A bebida fabricada no Engenho da Serra é feita apenas com cana produzida na cidade de Morretes. A qualidade da cana, assim como a temperatura de cada localidade, é o que diferencia a cachaça produzida em uma determinada região de outra.
“Em nosso moinho, a cana é moída em moenda de ferro, vai para fermentação, onde fica de três a cinco dias, é levada para destilação em alambiques e depois para tonéis de envelhecimento, já estando pronta para consumo”, explica Sueli.
Moinhos Gnatta - Único moinho não elétrico de Morretes, movimentado por roda d’água. |
Safra
Cada tonelada de cana gera cem litros de cachaça. A safra em Morretes acontece entre os meses de junho e dezembro, quando a cana é considerada de melhor qualidade para a produção da bebida.
A cada ano, a primeira cachaça produzida no moinho não é aproveitada, pois tem entre 65% e 75% de álcool. “Esta primeira cachaça acaba sendo usada para esterilizar materiais que temos no restaurante que mantemos ao lado do engenho”, afirma.
O estabelecimento também é chamado Engenho da Serra, funciona em uma casa com mais de 100 anos de construção e tem capacidade para atender 130 pessoas, estando aberto para almoço nos sábados, domingos e feriados.
A cachaça considerada boa, segundo Sueli, tem entre 38% e 45% de álcool. Além de ser vendida pura, no Engenho da Serra o produto também é comercializado com sabores de frutas naturais, como banana, figo e limão siciliano.
As garrafas custam entre R$ 10 e R$ 50, sendo a mais cara a que tem um rótulo alusivo ao centenário do engenho, com foto dos fundadores do local. “Nossa cachaça é vendida exclusivamente em Morretes. Porém, outros produtores da cidade enviam seus produtos para outros estados e mesmo para o exterior. A cachaça de Morretes já foi comercializada até no Canadá”, frisa.
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CACHAÇAS MORRETIANAS
por Éric Joubert Hunzicker
Morretiana: A cachaça no imaginário morretense.
BREVE HISTÓRIA DA CACHAÇA DE MORRETES.
Como em todos os segmentos, também na fabricação de cachaça Morretes têm muita história.
Uma história que, em muitos casos está perdida para sempre.
Como sabemos, a “morretiana” (é assim que o dicionário Aurélio identifica a nossa cachaça) já era fabricada pelo primeiro colonizador, João de Almeida. Para que tenhamos uma ideia da localização do engenho de João de Almeida, ficava mais ou menos onde hoje é a esquina da Rua Coronel Rômulo José Pereira com a Avenida João de Almeida, sendo que a água do Rio Santa Cruz que desemboca ao lado do Hotel Nhundiaquara era a sua força motriz.
Aqui, alguns dos engenhos que encerraram suas atividades:
Bento Placídio Garibaldino Teixeira – Rio Sagrado;
De Bona & Irmãos;
Narciso Malucelli & Irmãos – Fortaleza;
Irmãos Freitas – Pantanal;
Dorcílio Gabriel de Freitas – Rio Sagrado;
Sebastião Scucato – Núcleo Rio do Pinto;
Irmãos Malucelli & Cia, Ltda. – Anhaia;
Reginaldo Ramos – Mundo Novo;
Irmãos Apolinário - Anhaia;
Chain Maia – Fartura;
Marcos Malucelli & Irmãos – Sítio Grande - Central;
Loury Cordeiro Alpendre – Sítio do Campo;
Robert Léo Royer – Cabrestante;
Pedro Sanson (Agostinho Sanson) – Anhaia;
Pedro Manso da Silva – Anhaia;
Irmãos Pazinatto – Anhaia;
Viúva Silvério & Filhos - Anhaia;
Antonio Dalcuche - Marumbi;
Brambilla & Cia.;
João de Andrade;
Agro Indl. e Coml. Morretes S. A. – Núcleo Rio do Pinto;
Agropecuária Sinuelo – Rio Sagrado.
Necessário também citar o nome de Alfredo Malucelli que como engarrafador ajudou a elevar o nome da cachaça morretiana.
É importante destacar que o Engenho da Família Royer fabricou também Cognac, Whisky, Gin, etc., cujos rótulos estão aí para comprovar.
Hoje, temos novamente um grande incremento na fabricação da cachaça em nosso município.
Estão em plena atividade os antigos engenhos:
Irmãos Leal – Mundo Novo do Anhaia; Família Gnatta – Marumbi.
Os que investiram na construção de novos engenhos, usando a antiga tecnologia são:
Engenho Novo, de Marcel Dusczak – Sítio do Campo;
São Pedro, de Irmãos Scucato & Cia. – Contenda;
Colibri, de Helmut Hagedorn – Rio Sagrado;
Cachoeirinha, de Lino Abreu Rodrigues – Floresta Rio Sagrado.
Usando tecnologia altamente avançada temos os seguintes:
Porto Morretes, da Agro-Ecológica Marumbi Ltda – Marumbi;
Americana – Engenho Penajóia - Marumbi;
Magia da Serra – Vardinho.
Americana – Engenho Penajóia - Marumbi;
Magia da Serra – Vardinho.
Texto cedido por Éric Joubert Hunzicker
Fonte: Correio do Litoral
Link: http://correiodolitoral.com
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Curiosidades
Fluxograma da produção de cachaça |
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Ilustrações Pertinentes
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Ilustrações Pertinentes
Fermentação |
Folhas da cataia |
Plantação da cataia |
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Rótulos da cachaça morretiana.
Obs:- Os rótulos aqui expostos, em sua maioria, são antigos. Estou publicando a título de curiosidade, pois os mesmos ficaram para a história.
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MORRETES - A CIDADE MARAVILHOSA. |
Vejam também, em vídeo, comentários do morretense, Éric Joubert Hunzicker, sobre a cachaça morretiana.
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A cachaça COLIBRI não tem igual, é licoroso. É ótimo, é ímpar, coisa de artesão mesmo. Gostaria que me auxiliasse na procura desta.
ResponderExcluirA procura da cachaça Kreutzer
ResponderExcluirPARABÉNS POR ESTAS HISTÓRIAS INCRÍVEIS. QUEM DIRIA!
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