IMIGRAÇÃO JAPONESA NO PARANÁ.
IMIGRAÇÃO JAPONESA NO PARANÁ.
Imigrantes chegaram no estado do Paraná em 1909, um ano após o navio Kasato Maru atracar em Santos (SP).
Por Willian Bressan.
Texto publicado na edição impressa de 25 de abril de 2015.
O mundo passava por transformações no final do século 19. O Japão, após 200 anos de isolamento, abria as portas para o comércio exterior, mas enfrentava uma grave crise econômica. O Brasil, por outro lado, tinha recém abolido a escravidão e proclamado a República, e necessitava de mão de obra para trabalhar na agricultura.
Para atender à necessidade, em novembro de 1895, foi assinado em Paris, o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, pelos ministros plenipotenciários do Brasil na França, Gabriel de Toledo Piza e Almeida, e do Japão, Arasuke Sone. Foi o início das relações diplomáticas entre Brasil e Japão.
Cacatu, no Litoral, foi a primeira colônia de japoneses no estado.
O primeiro núcleo nipônico do Paraná nasceu em 1917.
Os primeiros 781 japoneses, trazidos pelo navio Kasato Maru, no entanto, só desembarcaram no porto de Santos em 18 de junho de 1908, após 52 dias em uma viagem de 12 mil milhas, de acordo com a bibliografia de Claudio Seto e Maria Helena Ueda. Ainda no navio, eles ouviram os rojões das festas juninas e acreditaram que os brasileiros estavam desejando-lhes boas-vindas.
Márcia Ito e Patrícia Takassaki |
Márcia Ito e Patrícia Takassaki são descendentes das famílias que fundaram a primeira colônia de japoneses no Paraná, a colônia Cacatu, localizada em Antonina, no litoral do Paraná. Conheça a história da colônia e a luta das duas para manter viva a história quase 100 anos depois.
Os pesquisadores Maria Helena Uyeda e Cláudio Seto registram que momentos antes do desembarque, Shuhei Uetsuka escreveu o primeiro haicai no Brasil, que dizia: “Nau imigrante, cortando oceanos, cascata seca”. Mais tarde, Uetsuka seria conhecido como “Pai dos imigrantes japoneses no Brasil”.
A vida cultural de Curitiba estava em plena efervescência em 1909. O movimento simbolista – encabeçado por Emiliano Perneta e Dario Velloso – estava em sua época de consagração. Os curitibanos também se preparavam para uma vida moderna – composta por fotografia, gramofones, bicicletas e motocicletas. Conforme os pesquisadores Claudio Seto e Marina Helena Uyeda, os eventos no Passeio Público, as vitrines e diversões do parque Colyseu Curitibano faziam a alegria dos curitibanos na época.
É nesse contexto que três japoneses chegaram aqui em abril de 1909. “Neste ano, três japoneses passam pelo Paraná e encontram uma cidade que vivia momentos de transformação para o mundo moderno. No entanto, eles só passam a morar aqui em 1912, quando é criada uma Casa Japonesa, na Rua XV de Novembro com a Dr. Muricy”, detalha Maria Helena. Ainda naquele ano, outro japonês, Kinsuke Kato, veio trabalhar no cultivo do café em Ribeirão Claro, no Norte Pioneiro.
Nesse meio tempo, uma campanha contra a presença dos japoneses foi iniciada pelo Diário da Tarde. No dia 14 de abril de 1909, o jornal estampou o artigo ‘Nada de japoneses” na primeira página. Isso, no entanto, não impediu que novas famílias chegassem na Fazenda Monte Claro. Ali, em 12 de dezembro de 1914, nasceria o primeiro nissei paranaense: Massao Nishikawa. No ano seguinte, as famílias Honda e Kuya chegaram em Cambará, na Fazenda Água do Bugre.
Em 1920 foi fundada em Cambará a Vila Japonesa, primeira colônia do Norte do Paraná. Ao mesmo tempo, mais pioneiros chegaram a Jacarezinho, Santa Mariana, Andirá, Bandeirantes e Cornélio Procópio.
A integração entre as raças ocorreu a partir de 1919, na Catedral de Curitiba, quando Shingo Matsuda casou-se com Magdalena Marchiori. Em 1920 nasceu Shingo Matsuda, primeiro mestiço paranaense.
A presença nipônica, no entanto, só se acentuou no Norte do estado a partir da década de 1930, quando Hikoma Udihara incentivou os imigrantes a se mudarem para o Paraná, onde não havia proibição de plantar café e as terras eram mais baratas que em São Paulo. Na região, participaram da fundação de Londrina, Assaí, Rolândia, Arapongas, Uraí, Maringá e outras cidades. “Trabalhando na agricultura, os japoneses deram uma importante contribuição para o desenvolvimento do Paraná, pois além do cultivo do café e do algodão também diversificaram a produção agrícola, implantaram diferentes técnicas e se uniram através de cooperativas”, conta Maria Helena.
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A campanha anti-imigração propagada pelo Diário da Tarde não impediu que o prefeito de Antonina na época pedisse que imigrantes japoneses viessem para o Litoral do Paraná. Foi assim que as famílias Hara e a Yassumoto chegaram em 1917 e se tornaram as primeiras famílias japonesas a comprar 250 alqueires de terra em Antonina, formando a Colônia Cacatu, o primeiro núcleo nipônico do Paraná. “Cacatu acabou se tornando a porta-de-entrada para os japoneses no sul do Paraná. Eles acabaram se fechando em guetos e criando colônias porque o país, a comida, os hábitos eram totalmente diferentes”, conta a pesquisadora Maria Helena Uyeda.
Na colônia, os japoneses trabalhavam, estudavam e conviviam juntos mantendo vivas as tradições, mesmo tão distante de casa com o objetivo de trabalhar muito, ganhar dinheiro e voltar para o Japão. A partir de 1937, no entanto, com o início do Estado Novo, o governo brasileiro impôs medidas restritivas aos imigrantes dos países do Eixo.
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História viva
Os olhos de Márcia Ito Kikuti (64 anos), e Patrícia Takassaki Alves (53 anos), brilham de emoção e orgulho ao lembrar da história de Cacatu. Não é à toa. As duas são descendentes das primeiras famílias que fundaram a colônia, em 1917. “Os japoneses vieram para cá plantar arroz, mas o projeto não foi para frente, porque a terra não era fértil para o plantio. Então, eles começaram a cultivar cana de açúcar e inventaram a fábrica de cachaça”, conta Márcia. Além de ser a primeira colônia formada por japoneses, Cacatu também é a primeira cujas terras foram adquiridas por japoneses no estado.
Em razão da Guerra, em 1945, medidas restritivas impostas pelo governo de Getúlio Vargas fizeram com que todas as famílias tivessem de deixar Catatu.
Na década de 1950, o avô de Márcia retornou a Antonina, comprou as terras da colônia e iniciou o plantio de arroz. Em 1988, as terras foram vendidas novamente. Na década de 1990, Márcia foi para o Japão trabalhar como dekassegui e conseguiu juntar dinheiro para comprar as terras novamente no início dos anos 2000.
“Depois de 12 anos, conseguimos voltar para cá e o meu pai sabia todos os detalhes, os buracos na parede. Por sorte, a maioria das construções era original da época. A vista do Pico Paraná também”, comemora Márcia.
Desde então, Márcia se dedica a manter viva a história e tradição de Cacatu. Foram erguidos memoriais na propriedade em homenagem aos fundadores da colônia e também são realizados encontros com descendentes dessas famílias. A antiga colônia está aberta para visitação e eventos e conta com memoriais que mantêm viva a história do lugar.
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Praça do Japão - Curitiba - Paraná - Brasil |
Praça do Japão
Após o período de perseguição da Segunda Guerra Mundial, mostrado no filme "Corações Sujos", a colônia japonesa ficou muitos anos com a autoestima em baixa. O ânimo só voltou em 1958, com a primeira visita de um membro da família real japonesa ao Paraná. Em 1962, a Praça do Japão foi construída para lembrar esse momento e passou a ser palco de muitas comemorações da colônia em Curitiba.
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Cacatu, município de Antonina-PR-BR |
Ainda que simples - construção de Cacatu, guarda semelhanças com a arquitetura japonesa.
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"Não se pode pensar em nosso povo sem a excelente contribuição de outras culturas, mediante a imigração. Em particular, há muito a agradecer a tantos japoneses que por aqui vieram."
"Segundo o Livro de Homero Oguido - "A Saga dos Japoneses no Norte do Paraná" - em 1928, três japoneses fundavam a Colônia de Igarapava em terras do atual município de Cornélio Procópio. Ainda existem casas com características orientais daquela área. Foi o início de uma história muito rica em trabalho, dedicação e em trocas culturais. Muitos mais vieram e, muito mais se fez pelos japoneses no Norte do Paraná."
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A HISTÓRIA DO NIKKEI CLUBE
O Nikkei Curitiba nasceu com o nome de Tomonokai (Clube de Amigos), em 11 de agosto de 1946. Passou por várias fusões e transformações até tornar-se a atual Sociedade Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba.
O Tomonokai foi fundado por um grupo de 31 amigos, liderados por Otoichi Higashino, Iwakichi Hamasaki e Tanimatsu Hamasaki, Yassushi Yamasaki e Sadahiko Fujimura. Na época, o governo de Getúlio Vargas baixou um decreto proibindo reuniões de japoneses, regulamentando a atividade dos estrangeiros naturais dos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Todas as associações originárias de imigrantes ou descendentes destes países foram fechadas. A iniciativa de fundação do clube desafiou as leis em vigor no Brasil, que proibiam inclusive a divulgação de escritos nos idiomas daquelas nações, além de seu uso em lugares públicos.
Em 1940, após uma série de medidas legais contra imigrantes dos países do Eixo, como proibição de escritos e de uso do idioma em público e do registro de estrangeiro, estava em curso uma campanha para expulsar os japoneses em Curitiba. Para combater os boatos, o Rengo Nihonjinkai (Associação Unida Japonesa), presidida por Higashino, publicou o livro Cruzamento da Ethinia Japoneza, onde mostrava, com muitas fotos, imigrantes japoneses casados com brasileiras. O livro foi enviado para o Palácio de Governo, para servir de contra-argumento na campanha.
Em agosto de 1941 foi proibida a publicação de jornais e revistas de idioma japonês. A comunidade, que se informava quase exclusivamente através dos jornais nipônicos de São Paulo, ficou isolada.
Em janeiro de 1942, o consulado do Japão no Paraná encerrou suas atividades. A seguir o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com o Japão, que passou a ser considerado inimigo. Em julho, os japoneses residentes no litoral do Paraná receberam ordem de retirar em 24 horas, sob acusação de estarem fazendo sinais para submarinos japoneses na costa. Na ocasião, os bens dos imigrantes foram congelados por ordem da Superintendência da Segurança Pública.
Do litoral partiu o “trem dos evacuados” , despejando os japoneses de Paranaguá, Morretes e Antonina em Curitiba. Os que resistiriam ou perderam o trem foram expulsos das casas por soldados armados. Muitas famílias foram alojadas na Granja Canguiri, que parecia um campo de concentração de prisioneiros japoneses e brasileiros de origem japonesa.
Os adultos foram obrigados a trabalhar na produção agrícola e as crianças separadas de seus pais, levados para a Escola Agrícola Militar de Castro. A iniciativa do interventor Manoel Ribas, a pretexto de dar educação para as crianças, foi interpretada pelos japoneses como medida para evitar a fuga do local.
Em Curitiba foram organizadas campanhas para arrecadar sucata de borracha ou metal, para serem recicladas pela indústria norte-americana. A campanha da borracha usada, tinha como um dos prêmios, um passeio à Granja do Canguiri, onde as famílias japonesas ocupavam os boxes de cavalos e bois. Todas as semanas, estudantes vinham ver a vitrine da demonstração de poder das autoridades paranaenses, fazendo gozações com os nipônicos. Os estudantes, em atitude de chacota, ofereciam capins aos alojados com imitações de mugidos, relinchos e berros de bode.
Desse cenário preconceituoso, nasceu o apelido Bode, para designar os japoneses em geral. O termo se espalhou por todos os lugares onde existiam japoneses e permaneceu enquanto durou a discriminação.
A Rengo Nihonjinkai, única associação japonesa existente na época, deixou de funcionar. Nas ruas de Curitiba, os japoneses eram perseguidos. Em 1942, alguns japoneses foram presos na Penitenciária do Ahu. Neste ano ainda, houve um grande quebra-quebra na cidade, quando dez mil pessoas que estavam reunidas na Praça Osório numa manifestação contra o nazismo, saíram pelas ruas invadindo e depredando estabelecimentos comerciais, indústria e clubes pertencentes a alemães, italianos e japoneses.
A mercearia de Otoichi Higashino também foi destruída e ele se mudou para o bairro de Guabirotuba para plantar hortaliças. Por ironia, seu filho, José Higashino, foi convocado a prestar o serviço militar em 1944. O pracinha embarcou para a Itália em setembro e em dezembro tombou na frente de batalha do Monte Castelo. Foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia.
Terminada a guerra, a comunidade japonesa no Brasil se viu dividida em duas facções: makegumi (derrotistas), que acreditava na derrota do Japão e katigumi (vitoristas), que acreditava no oposto. Os conflitos internos da comunidade aumentaram os preconceitos contra os japoneses e seus descendentes. Os vitoristas, para ficarem bem com os brasileiros, começaram a denunciar os derrotistas.
A necessidade de formar uma trincheira de resistência cultural, baseada em princípios de trabalho e honestidade tornou-se urgente. Higashino e outros fundaram então o Tomonokai na Vila São Paulo, então chamada Corte Branco. Embora tivessem medo, os sócios levaram a inciativa adiante. O entusiasmo foi tão grande que duas semanas depois os jovens da comunidade se reuniram e fundaram do Seinenkai (Associação de Moços), batizada de Uberaba Seinenkai, tendo Satoru Hamasaki como presidente. Em novembro foi levantado o primeiro kaikan, atual sede do nikkei. A primeira peça doada à entidade foi uma bandeira do Brasil.
Em 1949, o Tomonokai mudou para Curitiba Nihonjikai e em 1967, fundindo-se como Uberaba Seinenkai, passou a se chamar Curitiba-Shi Uberaba Nihonjinkai. Em 1980, fundiu-se com o Nikkei Clube do Paraná e passou a ser Nikkei Clube de Curitiba. Enfim, em 1994, aliando-se ao Bun-Enkyo, assumiu o nome de Sociedade Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba.
Fonte: NIKKEI - Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba.
(Retirado de Ayumi – Caminhos da Imigração, de Claudio Seto e Maria Helena Yueda).
Nikkei Student Union. |
A Sede Campestre está localizada na Avenida Benedito Alves Delfino s/nº. ao lado do Clube Banespinha, numa área de 12 alqueires com 5 Campos de Beisebol. |
Itaquera Nikkei Clube existe desde 1927. |
SOFTBOL - Nikkei Curitiba é campeã da XI Taça Brasil de Softbol Feminino Infantil. |
Negreiros Nikkei Club celebrou seus 60 anos de vida Institucional. |
Concurso Garota e Garotinha Nikkei Fest 2015. |
Garota Nikkei |
Nikkei University Club 1928. |
8ª Etapa da Liga Nipo Brasileira de Tênis de Mesa - Realização Itaquera Nikkei Clube. |
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Imigrantes japoneses, obrigado por virem até nós!
Sua cultura e filosofia de vida enriqueceram muito o nosso estado e nosso país.
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IMAGENS DE IMIGRANTES JAPONESES.
OUTRAS IMAGENS PERTINENTES.
Márcia Ito e Patrícia Takassaki.
Cacatu - Antonina - Paraná - Brasil.
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Cacatu - Antonina - Paraná - Brasil |
Descendentes de imigrantes - Bar que eu frequento em Paranaguá - Meus amigos: Paulo Kasuo Fugita e sua mãe Yae Fugita. |
Minha amiga Emília Fugita - irmã do saudoso "seo" Mário Fugita, tia do meu amigo Paulo Fugita. |
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PRAÇA DO JAPÃO
CURITIBA - PARANÁ - BRASIL.
Vídeo em homenagem à imigração japonesa no Brasil.
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Olá, gostaria de saber de onde vieram aquelas fotos antigas, em preto e branco, preciso das referências para um trabalho acadêmico. Desde já obrigada.
ResponderExcluirAs imagens em preto e branco, assim como as coloridas, foram obtidas na internet, é só pesquisar no google "Imigrantes japoneses no Brasil". Abs.
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