segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Nossa Senhora da Luz dos Pinhais - Padroeira de Curitiba-Paraná.

NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS - PADROEIRA DE CURITIBA-PARANÁ.




Publicado no facebook pelo amigo Jorge M. Fujita.

Paranaguá, 8 de setembro de 2015.

Terça-feira, dia 8, é dia da Padroeira de Curitiba, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. 
(feriado municipal).

'NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS'

Devoção mariana, nascida de milagre em Portugal, floresce no Brasil.

“Neste mundo neopagão em que vivemos, os homens não entendem o modo de agir divino: se Deus nos prova nesta vida, visa premiar-nos na vida eterna, caso sejamos fiéis. Assim, a história da devoção mariana narrada a seguir nasceu de uma provação, da terrível prova da escravidão.

Pero Martins era um português pobre da vila de Carnide. Dedicava-se à agricultura pelo início do século XV. Tendo trabalhado no sul de Portugal, conheceu Inês Anes, uma moça dona de algum patrimônio com a qual casou. Voltou à sua vila natal e lá levava uma existência tranquila com sua esposa. Vida ideal segundo muitos... mas não segundo Deus, que desejava muito mais do nosso bom português.

A provação despontou em seu caminho. Caiu ele prisioneiro dos mouros da África. Teria ele participado de alguma das numerosas expedições lusas à África ou sido sequestrado pelos piratas muçulmanos que saqueavam as costas portuguesas? Não o dizem as crônicas. O fato é que esteve prisioneiro na África.

Que queda espetacular! Passar de senhor de si e de outros, alimentando-se bem, rodeado do carinho de sua família, trabalhando num clima agradável, e sobretudo confortado facilmente pelos auxílios da Religião verdadeira, a católica, para a tristíssima condição de escravo, obrigado a trabalhar num campo alheio, sob clima atroz, para alimentar um grupo de sequestradores, sem segurança de nenhuma espécie, alheio a todo carinho e compaixão. Exposto a morrer a qualquer momento, sem ter perto um padre para o ajudar a viver e morrer bem, e assim poder se apresentar diante do terrível tribunal divino, no qual a sentença é nada menos do que a bem-aventurança eterna ou o inferno eterno!

Realmente, isso é que é prova! Quantos anos durou? Ninguém sabe, mas provavelmente foi um bom tempo. Procurou-se resgatar Pero Martins de seu cativeiro, mas dadas as miseráveis comunicações do tempo, especialmente entre povos inimigos, não se conseguiu pagar o resgate. Assim, teve ele que continuar prestando “serviços” a seus cruéis amos.

Já transcorria o ano de 1463 e nenhuma esperança humana restava ao infeliz cativo. O que fazer nessa terrível circunstância? Abandonar a Fé católica, o que lhe traria a libertação quase automática? Loucura! Seria trocar poucos anos de vida, ainda que em liberdade, por uma eternidade infeliz – o pior negócio desta vida.

'Solução milagrosa para situação insolúvel'

Pero Martins rezou a Maria Santíssima, a Qual decidiu solucionar sua situação de forma a evidenciar que remove todos os obstáculos postos pelos homens. A Mãe de Deus apareceu-lhe em sonhos durante 30 noites consecutivas e prometeu-lhe que na última noite, ao acordar, estaria em Carnide, sua cidade natal. Acrescentou que, ao chegar ali, deveria buscar uma imagem Sua que fora escondida perto da fonte do Machado, num local que lhe seria indicado por uma Luz. Nossa Senhora pediu, além disso, que construísse uma ermida no lugar em que encontrasse a imagem.

Indescritível a alegria do bom português ao acordar e encontrar-se de volta em sua terra! Parecia mentira! Sair da terrível escravidão de forma tão fácil, só porque Ela, a Rainha do Céu e da Terra, assim o quis! Tomado de emoção, Pero Martins pôs-se imediatamente a procurar a Imagem que Nossa Senhora lhe pedira para encontrar. Não foi difícil que lhe dessem notícias dela, porque já há algum tempo começara a aparecer sobre a fonte do Machado uma luz misteriosa, cuja origem ninguém conseguia descobrir. Até de Lisboa, a capital, curiosos apareceram para ver tão estranho fenômeno.

Saiu então Pero de noite, acompanhado de seu primo Lopo Simões, para procurar a imagem. Ao chegar à fonte viram a Luz, a qual começou a se mover na frente deles. Seguiram-na até parar no meio do matagal, sobre umas pedras. Os dois primos removeram as pedras e encontraram uma imagem de Nossa Senhora, tal como a Virgem havia descrito nos sonhos.

Nasceu assim a devoção a Nossa Senhora da Luz, para a qual foi construída uma ermida e depois uma magnífica igreja no local da aparição.

'A nova devoção mariana transfere-se ao Brasil'

Menos de 40 anos haviam transcorrido desse fato prodigioso, quando a frota de Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. E, junto com a religião católica, vieram ao Brasil as devoções mais correntes em Portugal.

Em 1580 já existia em São Paulo uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Luz, transferida em 1603 para o atual bairro da Luz, onde se encontra o Mosteiro concepcionista no qual está enterrado o bem-aventurado Frei Galvão. No Rio de Janeiro havia igualmente um santuário, cuja imagem encontra-se hoje na Matriz do Alto da Boa Vista.

'Padroeira de Curitiba'

Mas foi especialmente em Curitiba, onde Nossa Senhora quis mostrar que sua bondade se estendia à nação filha de Portugal, libertando os pobres índios pagãos, escravos dos pecados e dos vícios.

Por volta de 1650 existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Luz, perto do rio Atuba, no atual Estado do Paraná. Os habitantes do local notaram com surpresa que, pelas manhãs, a imagem tinha sempre os olhos voltados para uma região com muitos pinheiros, ou pinhais – Curitiba, em idioma indígena, onde dominavam os ferozes índios caingangues. De tal modo, o olhar da imagem nessa direção era insistente, que os habitantes decidiram desbravar a região. Para isso, armaram-se e penetraram no local, decididos a lutar e dominar os selvagens.

'Nossa Senhora da Luz apazigua indígenas'

Em vez do previsível combate, o que ocorreu foi a acolhedora recepção oferecida pelo cacique Gralha Branca, ou Araxó. Os índios concordaram em ceder amigavelmente o terreno aos desbravadores, e o cacique tomou sua vara, símbolo do mando, enterrando-a no local que viria a ser a praça central da futura cidade. Muito simbolicamente, dita vara, ao chegar a primavera, voltou a desabrochar, dando galhos e flores. Nesse local – hoje Praça Tiradentes – foi erguida a igreja em honra a Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

Com o tempo a cidade cresceu de tal modo que foi necessário edificar novo templo. Foi então construída a bela Catedral neogótica que hoje conhecemos.”
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Mais uma história compilada da internet; vale a pena ler até o final, é muito interessante...

História da imagem de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais e fundação de Curitiba.
Em razão da festa de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, comemorada no dia 8 de setembro, narramos abaixo um relato sobre a história pouco conhecida ou eclipsada do milagre ocorrido para a colonização da capital paranaense.

Imagem acima: Cacique Tindiquera indica o local da fundação de Curitiba. Quadro pintado pelo artista plástico morretense,  Theodoro De Bona.

“No seio dos Pinhais”... 

Tudo isso vai a esfuminhar-se em lenda... 
-“Aqui!” o bugre disse e a gente aventureira... 
No seio dos Pinhais, com a luz por padroeira, 
Plantou de Curitiba a originária tenda. 
Floriu. Outra pepita: o trigo na moenda... 
Tosca avisou exausta a antiga faisqueira... 
Depois – filhos e heróis daqui, quanta bandeira...
Foi tecer dos sertões a epopéia estupenda! 
(Euclides Bandeira)


'Dificuldades bibliográficas'

Diz uma velha história que a fundação da cidade de Curitiba deu-se com um milagre de uma imagem de Nossa Senhora da Luz, a qual tornou-se padroeira da cidade. No entanto esse fato não é muito conhecido entre os atuais habitantes da cidade, nem mesmo entre os católicos. Os próprios livros de história mais modernos não narram o fato, poucos deles o citam, e ainda assim o taxando pejorativamente de lenda, mas, curioso, sem narrá-lo.

Quando esse assunto chegou ao conhecimento, logo procurei fontes substanciosas. Não encontrando nada de relevante entre os livros mais novos, tive de recorrer aos mais antigos. Aos poucos, como num funil, estes foram me levando a livros cada vez mais antigos, até chegar a um que foi o primeiro a ter narrado, e que ao mesmo tempo é o mais completo (“Memória Histórica, Cronológica, Topográfica e Descritiva da Cidade de Paranaguá e de seus Municípios”, obra de Antonio Vieira dos Santos, publicado oficialmente em 1922).

Encontrei depois muitos outros que repetem a matéria desse livro, poucos, porém, acrescentam dados diferentes. Não me parece que isso se deva a um desinteresse total dos historiadores, alguns ao menos devem ter pesquisado profundamente a matéria, mas a grande dificuldade é que não há documentos da época. As pessoas que presenciaram o milagre não se preocuparam em registrar no papel o ocorrido, apenas transmitiram de forma oral. Por essa tradição oral é que ficou conhecido esse fato durante muito tempo, e quando pela primeira vez foi escrito já era lenda.

Mas a história não pode ser negada por ninguém. Os fatos que se deram posteriormente não a contradizem. Ao contrário, muito se explica sobre o desenvolvimento da cidade, assim como do Estado do Paraná, através dela. Sobretudo ela explicaria o que muitos historiadores céticos, ateus e anti-católicos não aceitariam: uma história vista de um ângulo católico, explicando intervenções sobrenaturais para os futuros acontecimentos.

Espero através deste artigo conseguir reunir e fornecer aos meus amigos uma noção do que se deu nessa época.

'Primórdios da colonização'

Imagem acima: Bandeirantes – pintado por Almeida Júnior - 1897. 

Dos primeiros homens que vieram habitar na futura cidade de Curitiba encontra-se a história de Francisco Soares do Vale, no século XVII. Francisco morava na cidade de São Paulo, membro de uma conhecida família, era já casado e tinha filhos. Em certa ocasião uma grande tragédia mudou sua vida completamente, não se sabe o motivo, mas ele desagradou profundamente ao governador de São Paulo. O medo apoderou-se de toda a família, esperava-se o pior, a única saída era fugir e para bem longe, num local seguro. Combinou-se que ele iria sozinho até quando encontrasse algum local novo para viver, e então escreveria uma carta para que a família o seguisse. Mas para onde ir? Certamente ele deve ter ouvido falar das recentes descobertas de ouro na região de Paranaguá, feitas pelo Capitão Povoador Gabriel de Lara, ou por Ébano Pereira.

Francisco entranhou-se nas matas a caminho do litoral. Ir pelas estradas seria muito mais fácil, mas temia perseguição. Que sofrimentos ele pode ter passado? Dias no meio do mato repleto de riscos, como chuvas, animais perigosos, o medo de perder-se e o mais temível de todos que se poderia ter encontrado: os índios selvagens. Mesmo assim não havia outra opção.

Dias depois chegou finalmente aos Campos Gerais, parando na região dos Campos de Curitiba próximo ao rio Atuba, este local o deve ter agradado muito, pois decidiu ali permanecer. Mas antes precisava ir até alguma cidade chamar sua família. A viagem até Paranaguá não era longe e o caminho não deveria ser tão difícil, pois já havia sido percorrido por muitos aventureiros e exploradores que por ali passaram, porém sem se fixar. Passando por Paranaguá, teve que ir até Cananeia, de onde podia enviar uma correspondência e esperar até a chegada de seu sogro que viria com toda a sua família. Boa notícia foi para eles quando souberam que Francisco estava bem, e que já tinha encontrado algum local para se estabelecer. E sem perda de tempo vieram ao encontro dele.

Provavelmente, foi ali na cidade que conheceu Lourenço Rodrigues de Andrade, um português que acabava de chegar a Cananeia. Esse imigrante vinha acompanhado de sua esposa, uma filha e o esposo dela, chamado Francisco Seixas. Lourenço, que também desejava sair à procura do ouro, decidiu ir com sua família, junto com a de Francisco Soares, habitar nessa nova terra. Consequentemente, foram essas as três primeiras famílias a povoar Curitiba, os Soares, os Andrades e os Seixas.


Esse pequeno grupo levou consigo uma pequena imagem da Virgem Maria, sob a especial invocação de Senhora da Luz. Era Ela de um estilo barroco e sem grandes dotes artísticos.

Quando chegaram ao lugar, onde antes havia estado Francisco do Vale, escolheram um ponto próximo ao rio Atuba, que depois ficou conhecido como Vilinha, ou Vila dos Cortes, onde hoje fica o Bairro do Atuba. A instalação inicial não deveria ser nada fácil. Cabia então começar a construção de suas moradias, plantarem o que seria necessário para a sobrevivência e estabelecer uma nova rotina que seria praticada pelo resto de suas vidas. Aos poucos também outros que passavam pela região, em busca da extração do ouro, fixaram-se lá. Assim, o número de casas ia aumentando e formando um pequeno vilarejo. As moradias eram construídas de maneira ainda muito simples, nenhuma feita com pedra. Eram pequenas choças cobertas com folhas de butiá.

Há também outro personagem que por essa época passou a residir na pequena vila: o jovem Matheus Martins Leme, considerado o povoador capitão de Curitiba. Matheus é natural de Santo Amaro em São Paulo, onde possuía um sítio chamado Boi-mirim (Cobra-Pequena), filho de Thomé Martins Bonilha e de Leonor Leme, parente não muito distante de Fernão Dias Paes Leme, “O caçador de esmeraldas”. Este jovem desbravador trouxe consigo sua esposa e talvez já os primeiros filhos. Pouco tempo depois, por sua bravura e retidão, assumiu a liderança do povoado, tendo sido respeitado como tal até a velhice.

Ao passar dos dias, vários viajantes ali se estabeleceram. Dentre eles destaca-se o bandeirante Baltazar Carrasco dos Reis que passou pela primeira vez nos campos de Curitiba, em 1648, junto com a bandeira de Antonio Domingues e, ao final da expedição, voltou trazendo consigo alguns filhos para adquirir terras na região.

Outros nomes ainda aparecem, como os de Gonçalo Pires Bicudo e Nuno Pires, sendo alguns descendentes das mais antigas famílias paulistas. Em pouquíssimos anos depois ergueu-se o pelourinho, símbolo do rápido crescimento da vila. E em 1693 a vila foi elevada a categoria de cidade, elegendo suas primeiras autoridades.

Foi, sobretudo, construída no centro da vila, uma pequena capela para a imagem de Nossa Senhora da Luz. Capela muito simples, nas proporções das precariedades de que passavam esses recém-chegados.

Havia realmente a necessidade de uma especial proteção da Virgem, pois na região viviam perigosos índios caingangues que aterrorizavam a população. Esses índios eram conhecidos com Tinguis, e foram assim chamados devido ao formato de seus narizes, que eram muito finos (“Tin” “guí”, - nariz afilado), eles viviam nos campos, onde construíam suas habitações, em covas abertas no chão. Parece que nunca houve um ataque da parte desses índios à pequena vila, ainda assim, o temor não faltava, pois o índio pagão não conhece a caridade. Mas um dia, do alto do Atuba, Nossa Senhora olhou para a miséria dos silvícolas e Ela sorriu.

'O Sorriso de Nossa Senhora'





Foi em certa manhã do ano de 1654 que um grande alvoroço se espalhou na pequena vila, a imagem de Nossa Senhora amanheceu em seu nicho voltada para o Oeste. Todos se perguntavam quem teria mudado, durante a noite, a posição da imagem, mas todos negavam tal feito.

No outro dia o fato repetiu-se e novamente ninguém o tinha feito. Os habitantes logo perceberam tratar-se de um milagre, e por muito tempo o milagre se repetiu diariamente. Houve um grande mistério sobre o assunto, mas não demorou a perceberem que Nossa Senhora lhes indicava a resposta para um grande problema que enfrentavam, pois o local onde estava construída a vila já não mais agradava aos habitantes. Dizem alguns geógrafos que talvez seja devido ao excesso de umidade no ar, mas não deve ter sido o único inconveniente que havia.

Nossa Senhora lhes indicava a direção para onde deveriam ir, mas exigia deles um ato de confiança. Havia um grande problema na direção indicada por Ela, é que exatamente para lá estava a aldeia dos Tinguis. Esses homens nunca tinham se aventurado nessa direção, pois temiam um ataque dos Índios. Mas eles tinham devoção a Nossa Senhora e acreditavam no milagre. Então se reuniram para ver o que fariam, e decidiram ir e tentar o primeiro contato com os selvagens.

Os homens mais corajosos foram convocados para a comitiva que iria até os índios. Não foram sem levar as armas que dispunham para a defesa, o mais esperado era a hostilidade. Andaram cuidadosamente, descendo as coxilhas do local onde hoje é o Bairro Alto, passaram pelos pinheirais até chegarem aos toldos primitivos dos Tinguis. Para a época, uma distância longa. Enquanto isso, do Alto do Atuba, Nossa Senhora Sorria.

Ao final dessa tensa caminhada, encontraram-se, frente a frente, os brancos e os índios. Era um momento aflitivo, mas dever-se-ia demonstrar calma, pois a missão era de paz. Dos índios, muito intuitivos, não partiu o grito de guerra, mas um aceno, na acolhedora expressão “Há Kantin” (Vinde). Arcos e flechas foram lançados ao chão em sinal de paz, diferente do esperado, a recepção foi generosa e cordial. Entre os índios, destacava-se Arakxó, cujo nome significa Gralha Branca, também conhecido como Tindiquera, revestido de seu manto branco, que é usado somente pelos guerreiros de sua raça, enfeitado com o cocar multicolor, símbolo de sua suprema autoridade, e portando o bastão inseparável dos Caingangues. Puderam assim tratar tranquilamente do motivo do encontro. Os índios ofereceram-lhes a “rumbia da congonha” (cuia de erva-mate), símbolo da hospitalidade, que rodou por todo o circulo dos guerreiros.



Escultura acima: A fundação de Curitiba – escultor morretense, João Zanin Turin, 1943.



João Zanin Turin, foi escultor brasileiro, natural de Morretes, considerado o precursor da escultura no Paraná.


Não foi difícil explicar aos índios o que vinham fazer, estes com inesperada naturalidade, aceitaram a entrega da região e foram habitar mais além. Ao final da conversa, Arakxó deu uma ordem a um de seus guerreiros que se retirou. Depois de alguns instantes ouviu-se ao longe o som da “Cokire” (buzina), que chamou a si todos os índios da tribo, do meio das matas uma multidão logo se acercou do “On buongh vê” (o maioral, o que vê mais que todos). Quando todos estavam reunidos, Arakxó, pegando seu bastão, fincou-o na terra gramada, dizendo solenemente - “Tá! Tati Kéva” (Aqui! Aqui é o lugar), marcando o ponto onde os brancos deveriam tomar por centro da povoação que fariam (figura ao lado: A fundação de Curitiba – autor João Turin, 1943). Também chamou ali de “Coré-etuba” que significa “Muito Pinhão”, nome este que depois daria no nome da cidade. Voltando-se a seu povo, Arakxó ordenou - “Kuri tin!” (prontos para a marcha!), e estando todos prontos - “Muna!” (Vamos!). E todos os caingangues se movimentaram, lentamente, rumo às florestas mais ao ocidente, abandonando seus domínios.

A alegria desta conquista não pode ter sido pouca. Os expedicionários voltaram para a Vilinha, narraram o que se passou, e todo o povoado comemorou. Um novo êxodo se deu nessa ocasião, abandonando a antiga Vilinha, e no lugar da antiga tribo, formaram o novo povoado. Narra ainda a história, que ao chegar a primavera, a vara brotou, cresceu ramos e por fim floriu, dando numa frondosa árvore.

A população percebeu logo como o novo local trazia consigo muitas vantagens geográficas, pois estava próximo ao rio Ivo e ao Rio Belém. Os índios não saíram das imediações da cidade, ficando a pequena distância a sua antiga morada. É evidente que com tal aproximação, o papel dos missionários muito mais facilmente foi cumprido, logo foram catequizados e deixaram o paganismo, recebendo a Luz da verdadeira Fé, da Senhora da Luz. Esses índios também foram aos poucos tomando parte na vida dos colonizadores, e foram bons serviçais nas explorações auríferas, na criação do gado, etc. E durante muito tempo predominaram em muitas cidades circunvizinhas à Curitiba, os seus mestiços, os quais se ufanavam de sua ancestralidade, em suas rixas logo avisavam os adversários – Cuidado, que eu sou Tingui!

'A nova capela'


Pintura acima: Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais – pintado por Arthur Nísio. 

A Imagem também teve sua nova morada, no local onde a vara floresceu, foi construída a nova capela. Era esta de pequena estatura, muito simples, feita de pau-a-pique e coberta de telhas goivas, mas tinha alguns traços de um possível estilo colonial. Funcionou como sede da matriz da vila, por quase meio século, sendo nesse período o centro das atividades, onde se reunia a população, espalhada pelos sítios e sesmarias. Serviu também de ponto para a eleição das primeiras autoridades. Foi no solo dessa capela, bem como em suas grossas paredes que foram enterrados os seus fundadores. Era assim a primeira casa da padroeira do nascente povoado.

Alguns comentários de personalidades paranaenses e outros:
Auguste François Cezar Provençal de Saint’Hilaire, botânico, naturalista e viajante francês, escreveu importantes livros sobre os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. Ele visitou Curitiba em 1820. Em suas anotações relatou de forma incrédula o que ouviu sobre o milagre, mas acrescenta sobre esses fatos que:

“Na época de minha viagem eram consideradas como incontestáveis pelos homens mais recomendáveis da terra.”

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Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo, membro da Academia Paranaense de Letras e catedrático da Faculdade de Direito. Bisneto de Diogo Pinto (conquistador dos Campos de Guarapuava), em seu livro Conquista Pacífica de Guarapuava, 1940, Pág. 29, Edição de 1995, escreveu:

“Recusa-se o valor histórico desse episódio. Por quê? Por não constar em ato público? Mas isso não seria possível nas condições especiais do fato. Aqueles povoadores não vieram investidos de autoridade."

"Seja como for, aquela tradição oral merece crédito, atestada, como foi, pelo honrado Vieira dos Santos. Devemos recebê-la e, intacta, passá-la adiante, como tradição oral, que sem embargo do acréscimo oriundo da crendice popular, referido por Saint’ Hilaire, tem seu fundo de verdade."

"Uma tradição é, na história, a prova testemunhal que só deve ser rejeitada quando inverossímil ou em contradição com a prova documental."

"Não é possível pretender que o historiador não dê um passo sem se basear em documentos. A história antiga é quase toda tradicional. De tradição se constitui muito da história medieval. A moderna não pode prescindir desse precioso elemento. E na contemporânea intervém ela ainda, embora quase sempre escrita. Velhos de hoje, no pressuposto da verdade, escrevem fielmente seus depoimentos a respeito do que têm visto, ouvido e sabido. E isso há de ficar para ser lido e interpretado pelos que hão de vir."

"E, quando mesmo a tradição da fundação de Curitiba se devesse considerar uma fábula, uma simples lenda antiga, ainda assim, como lenda, devia ser carinhosamente preservada por sua beleza épica e pelo seu prestigio de antiguidade veneranda. Repudiá-la seria mutilar o nosso patrimônio cultural."

"Enquanto não se apresentarem documentos que a destruam, vigora, em seu favor, a presunção da verdade. Lenda que seja, merece não ser esquecida.”

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Ruy Christovam Wachowicz, prof. do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, escreveu em sua obra História do Paraná, 4° Edição:

“É verdade que não se encontram documentos históricos que comprovem a veracidade dessas afirmações; entretanto, como é uma tradição que não se contradiz; ao contrário, completa-se com os fatos reais ocorridos com a fundação de Curitiba, deve ser reconhecida como verdadeira."

"A participação dos índios no surgimento de Curitiba deve ser real, porque é o único argumento que explica as boas relações que sempre existiram entre os brancos portugueses e os indígenas, na região de Curitiba. O fato explica a harmonia existente entre os colonos e faiscadores de ouro com o gentio, antes e depois de sua fundação."

"A harmonia entre esses dois grupos humanos não existiu, por exemplo, em São Paulo, vila esta que foi atacada várias vezes pelo indígena hostil.”
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Principais fontes de pesquisa:

• Antonio Vieira dos Santos - “Memória Histórica, Cronológica, Topográfica e Descritiva da Cidade de Paranaguá e de seus Municípios”, publicado oficialmente em 1922.
• Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo - Conquista Pacífica de Guarapuava – Edição de 1995 – Farol do Saber.
• Ruy Christovam Wachowicz – As moradas da Senhora da Luz - Curitiba: Gráfica Vicentina Ltda., 1993.
• Ruy Christovam Wachowicz – História do Paraná – 4ª Edição – Gráfica Vicentina Ltda.
• Romário Martins – O primeiro milagre de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba. Gazeta do Povo - 08.09.1933.
• Romário Martins, História do Paraná – 3ª Edição – Editora Guaíra Ltda.
• Ermelino Leão – Dicionário do Paraná. Empresa Gráfica Paranaense – Curitiba. 1927. vol. 3.



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IMAGENS DE NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS E DA CATEDRAL DE CURITIBA.



















Neve sob a catedral - 17/07/1975.
Catedral em construção - 1880

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46. E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor; 
47. Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador;
48. Porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações;
49. Porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo; 
50. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem; 
51. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos; 
52. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes; 
53. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos; 
54. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia; 
55. Conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre. 
Lucas 1, 46-55
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Um comentário:

  1. Escrevi um livro intitulado NOSSA SENHORA DS PINHAIS, que conta, de forma romanceada, a história da fundação da cidade de Curitiba. As lendas da imagem de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, do café, do pinheiro e da gralha azul se fundem em uma história única.
    Repleto de heroísmo e fé cristã, o livro narra, ainda, a colonização do Estado do Paraná, sem esquecer as maravilhas de Vila Velha, das Cataratas do Iguaçu e dos campos do Paiquerê, o paraíso do Éden, na versão indígena.
    Estou procurando ma editora que aceite publicá-lo, sem que eu precise pagar pela edição.

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