segunda-feira, 10 de junho de 2013

História do Hino Morretense por Éric Hunzicker

HISTÓRIA DO HINO MORRETENSE. 
por Éric Hunzicker.
Pintura: Theodoro De Bona


É oportuno esclarecer aos leitores que foi mantida a
 ortografia usada na ocasião deste acontecimento. 

Morretes

Hino

HINO: Poema lírico que exprime entusiasmo, contentamento, admiração, etc. Música, geralmente marcial ou solene, acompanhada de um texto, e que exalta o valor de algo ou de alguém.

A história do nosso hino começa no longínquo dia 15 de julho de 1903, dia em que o jornal curitibano “Diário da Tarde” publicava a nota abaixo, em sua coluna “Factos Diversos”.

Dizia ela que:-

“No dia 29 de dezembro do corrente anno, dedicados filhos da cidade de Morretes, vão offerecer á sua terra natal – uma polyanthéa, hymno, photographia da mesma cidade, etc.
A commissão compõe-se dos srs.:- Capitão Arlindo Januário de Oliveira, Lindolpho da Rocha Pombo, Pedro Leite e Carlos Augusto do Nascimento.”
Podemos então dizer que neste dia nascia à idéia de prover Morretes de um hino, um hino que realmente demonstrasse o amor de seus filhos pela terra onde nasceram e/ou viveram.
Dias depois, era criada uma comissão, formada pelos seguintes membros:-
Commissão Iniciadora:-
“Agostinho Leandro da Costa - Arlindo Januário d’Oliveira - Lindolpho Pires da Rocha Pombo - Carlos Augusto do Nascimento e Pedro Domingos da Silva Leite.”
Esta comissão, reunida no dia 27 de julho de 1903 criava e divulgava a Comissão Promotora dos Festejos e sua Diretoria, assim constituídas:-
Directoria:
“José Celestino d’Oliveira Júnior, Presidente; José Rodrigues de Almeida Júnior, Vice; Pedro Domingos da Silva Leite, Thesoureiro; Carlos Augusto do Nascimento, Secretário.”
Commissão:
“Arlindo Januário de Oliveira - Lindolpho Pires da Rocha Pombo e Agostinho Leandro da Costa.”
Vejam que as diretrizes estavam sendo tomadas com a maior seriedade possível. Estavam determinados.
Para o suporte financeiro que garantiria o sucesso da tarefa empreitada, morretenses de várias partes passaram a contribuir financeiramente.
Foram arrecadados Rs 1.146$500 (um conto, cento e quarenta e seis mil e quinhentos réis). Curitiba, 3 de dezembro de 1903 - O tesoureiro, Pedro Leite.

Divulgação do Hino:-
Primavera Curitibana!
É publicado o hino morretense. Este é um dia histórico para Morretes. Amanhece o dia 9 de outubro de 1903. Uma alvissareira notícia começa a circular entre os morretenses e amigos de Morretes residentes na capital. Nosso grande poeta Manoel Azevedo da Silveira Netto divulga a poesia que escreveu para servir de letra ao Hino Morretense. Eis a integra da publicação:-
HYMNO MORRETENSE

19 DE DEZEMBRO DE 1903
Composto para a festa em honra á Morretes e comemorativa ao 50º aniversário da instalação do Paraná.

Com a imponência dos morros altivos,
Que o embate dos anos não vence,
Eia, alerta! Trophéos redivivos!
Eia, glorias do Lar Morretense!

Corações, aureolae á porfia,
Nossa Terra de paz e amor. (côro)
Que a alvorada da gloria e alegria
Feche a noite das horas de dôr.

Soberana já foi nossa Terra,
Desde o Anhaia á gentil Nova Itália!
Que da Sorte não tenha mais guerra,
Nem a lucta dos tempos abale-a!

Corações aureolae á porfia...

Foi um bello torrão brasileiro;
Será forte, mau grado mil fragoas:
Dil-o o audaz Marumby sobranceiro;
Nhundiaquara o proclama nas agoas!

Corações aureolae á porfia...

E o dirá nosso amor, em cadencia,
Dos vallados aos montes soberbos,
Como um echo da antiga opulência
Florescendo nos dias acerbos!

Corações aureolae á porfia...


E o proclame o rumor do Trabalho,
-Semeador das seáras eternas-
Como um cântico sacro do orvalho
Despertando estas plagas maternas!

Corações aureolae à porfia...

E a Morretes ao ver novos trilhos,
Sagrarão, da Victoria ao accesso,
O laurel de um abraço dos filhos,
E o hymnario febril do Progresso.

Mudanças na letra do Hino:
Necessário se faz uma pequena observação: Silveira Netto havia realizado algumas mudanças na letra. A primeira delas, a mudança do sentido da frase do primeiro verso do coro, como se verá abaixo:

Como estava:
Corações aureolae á porfia,

Como ficou:
Aureolae corações á porfia,

A segunda, nos terceiros e quartos versos da segunda estrofe.
Como estava:
Que da sorte não tenha mais guerra,
Nem a lucta dos tempos abale-a!

Como ficou:
Que a palmilhe dos campos a serra,
Da Fortuna a doirada sandália!
É definida a letra do Hino:-
Após estes ajustes eis como ficou a letra do Hino Morretense:


HYMNO MORRETENSE

Com a imponência dos morros altivos,
Que o embate dos annos não vence,
Êia, alerta! trophéos redivivos!
Eia, glorias do Lar Morretense!

Aureolae corações, á porfia, (côro)
Nossa Terra de Paz e de Amor.
Que a alvorada da glória e alegria
Feche a noite das horas de dôr.

Soberana já foi nossa Terra,
Desde o Anhaia á gentil Nova Itália!
Que a palmilhe, dos campos á serra,
Da Fortuna a doirada sandália

Aureolae corações, á porfia, etc. (côro)

Foi um belo torrão brasileiro;
Será forte, mao grado mil fragoas;
Dil-o o audaz Marumby sobranceiro,
Nhundiaquara o proclama nas agoas!

Aureolae corações, á porfia, etc. (côro)

E o dirá nosso amor, em cadencia,
Dos vallados aos montes soberbos,
Como um écho da antiga opulência
Florescendo nos dias acerbos!

Aureolae corações, á porfia, etc. (côro)

E o proclame o rumor do Trabalho
-Semeador das searas eternas-
Como um cântico sacro do orvalho,
Despertando estas plagas maternas!

Aureolae corações, á porfia, etc. (côro)

E a Morretes, ao ver novos trilhos,
Sagrarão, da Victoria ao accesso,
O laurél de um abraço dos filhos,
E o hymnario febril do Progresso!

Divulgação de Edital:-
Neste mesmo dia era divulgado o Edital conclamando os interessados a compor a música para a poesia acima.
Treze interessados inscreveram-se, remetendo seus trabalhos à comissão especialmente designada para esse fim, composta pelos seguintes membros:- Cavalhieri J. A. Tattara –Cônsul Geral do Reino da Itália no Paraná; Paulo I. de Assumpção –Diretor do Conservatório de Belas Artes; Carlos Goudard –Violinista e Professor no Conservatório; Capitão Eduardo de Oliveira Lima –Oficial do Exército Brasileiro; Francisco Scharneski –Professor de Canto e Piano no Conservatório e Alice Withers –Exímia Pianista.

A escolha da música:-
A próxima etapa seria então a escolha da música, que foi efetivada no dia 16 de novembro, tendo os membros da comissão escolhido como o melhor, o apresentado, pelo também morretense, o músico e maestro Luiz da Silva Bastos.
Estava então o nosso hino completo. Letra e Música definidas.
Que emoções não devem ter sentido os morretenses, alguns tão saudosos de sua terra, ao ouvirem extasiados a primeira execução do Hino em homenagem ao seu torrão natal, acontecida no dia 23 de novembro, no salão de honra do Conservatório de Belas Artes, em Curitiba. Foi interpretado ao piano, com verdadeira maestria, pela talentosa senhorita Alice Withers e cuja letra foi cantada, com rara expressão e sentimento, pelas distintas senhoritas Constança Vidal, Maria Deolinda de Assumpção, Jovina Nascimento, Maria José Pinheiro, Julieta Marques e Maria José Ramos. Ao final, houve um frenesi de entusiasmo, vibravam em ardoroso transporte todos os corações. O êxito foi completo.
Chegaria então o grande dia: 20 de dezembro de 1903. Três grandes comitivas, viajando em trem especial, partiram de Curitiba, Paranaguá e Antonina, trazendo morretenses e amigos de Morretes, todos saudosos em rever sua cidade. Com grandes festas foram eles recebidos na Estação da Estrada de Ferro, por bandas e pelo povo em geral. Aqui é necessário que se reproduza os acontecimentos do dia: Eis, descrita pela pena de um escriba da época a grandiosidade dos festejos.

“Grandes Festas”
Conforme fora anunciado, realizaram-se ontem (20/12/1903) na cidade de Morretes extraordinárias festas em comemoração do cinqüentenário do Paraná.
Ás 8 ½ horas da manhã partiu desta capital o expresso conduzindo numero considerável de itinerantes, filhos daquela cidade e representantes da imprensa.
Apesar de apresentar-se o dia de um modo desanimador, chuva impertinente e contínua, o entusiasmo era manifestado com todas as expressões de alegria, havendo na gare enorme movimentação de passageiros, que tomaram lugar em oito vagões.
A viagem correu sem incidente e debaixo de francas alegrias, tocando nas estações de passagem a excelente banda do 13º regimento de cavalaria, que fez parte da excursão, assim como também a magnífica orquestra da “Eutherpe”, regida pelo talentoso maestro Luiz Bastos.
Após a travessia poética da serra, cujas belezas de encantadores panoramas são sempre de deslumbrante efeito aos olhos do viajante, ás 10 ½ o comboio, que fora em caminho garridamente ornamentado com galhardetes e escudos, deu sinal de chegada á estação terminal, respondendo a esse sinal uma salva de morteiros e girândolas de foguetes.
Aguardavam a chegada dos manifestantes naquela estação a Comissão de Festejos do município, Grêmio Cruzeiro do Sul, com seu estandarte, Sociedade Protetora dos Operários, Dr. Juiz Municipal, Prefeito do município, adjunto do Promotor Público e grande numero de pessoas, bem como as bandas musicais “Eutherpina” e “União Morretense”.
Alem desse grande numero de pessoas que enchiam a estação, pelas ruas circunvizinhas era enorme a massa popular, que com entusiasmo saudava os manifestantes.
Á essa hora já ali se achavam os visitantes chegados em trens especiais de Paranaguá e Antonina.
Forte era a chuva que então caia; apesar disso formou-se um grande préstito, onde viam-se moças ostentando belas toilettes, tomando direção da matriz onde foi cantada uma missa solene, não podendo realizar-se a missa campal, constante do programa dos festejos, em conseqüência do mau tempo.
Dali, ainda debaixo de forte pancada d’ água, dirigiu-se o povo para a Praça Municipal, onde realizou-se a sessão magna comemorativa do 50º aniversario da emancipação do Paraná.
O Sr. Arsênio Gonçalves Cordeiro, Prefeito Municipal, abriu a sessão dando a palavra ao distinto literato Silveira Netto, orador oficial da comissão de festejos desta capital.
Em vibrante e entusiástica oração, cheia de belas imagens patrióticas, rememorou o brilhante passado de Morretes, salientando as diversas individualidades intelectuais que naquele torrão viram a luz da vida, referindo-se, num grande elance emotivo, ao autor da musica do Hino Morretense. Ao terminar fez entrega das armas daquele município para adoção, e, bem assim, do hino que fora escolhido em concurso.
As distintas senhoritas Constança Vidal, Maria José Pinheiro, Maria José Ramos e Maria José Brandão, cantaram o belo e entusiástico Hino Morretense, acompanhadas pela excelente orquestra da estudantina Euterpe desta capital.
A impressão causada por aquela musica emocional e sugestiva e que foi magistralmente interpretada pelo garrido grupo de alunas do Conservatório e pelos inteligentes artistas que compõe a Euterpe, não podia ser mais bela e completa.
Prolongada salva de palmas que rompeu febril, coroou a obra daquele conjunto de esforços.
O Sr. Prefeito Municipal, após palavras repassadas de sinceridade, entregou o premio ofertado pela comissão de festejos ao talentoso artista Luiz da Silva Bastos, autor vitorioso em concurso do hino que naquela ocasião era triunfalmente executado. O premio constou de uma belíssima e custosa flauta de ébano e marfim.
Dada a palavra ao ilustre escritor Julio Pernetta, orador do município, produziu vibrante oração, sendo calorosamente aplaudido.
A Banda Marcial do 13º Regimento executou então o Hino Morretense, acentuando o surpreendente efeito causado a principio.
Usaram ainda da palavra o Sr. Affonso Ladislau Gama de Camargo, pela comissão de festejos de Morretes, Senhorita Maria Augusta de Oliveira, oradora do Grêmio Cruzeiro do Sul, Dr. Casimiro dos Reis, e Professor João Conceição, sendo todos entusiasticamente aplaudidos.
Após uma breve saudação feita pelo nosso companheiro Celestino Junior ao ilustre Capitão Paulo Assumpção e ás distintas alunas do Conservatório que executaram o hino foi encerrada a sessão.
Seguiu-se o banquete oferecido ás comissões de festejos pelo município, o qual tornou-se imponente por despir-se das etiquetas oficiais, muito imprópria ali, em conseqüência do predominante sentimento de fraternidade e da sincera alegria de conterrâneos.
Diversos brindes foram levantados aos morretenses, comissões, representantes de autoridades e imprensa.
Devido ao mau tempo não foi realizada a ultima parte do programa da festa.
Á noite realizaram-se diversos bailes destacando-se o do Grêmio Cruzeiro do Sul na sala da Câmara Municipal e o oferecido aos manifestantes por uma comissão de moças na casa de residência do Sr. Tenente-Coronel Rômulo José Pereira.
Os organizadores desses bailes foram incansáveis em colmar os convidados das maiores gentilezas, bem assim os Srs. Tenente-Coronel Rômulo José Pereira e Arsênio Gonçalves Cordeiro com suas digníssimas esposas, que com extrema gentileza acolheram todas as pessoas que tomaram parte nesse festival.
Devemos ainda registrar nestas colunas as maneiras fidalgas que por outro lado prodigalizaram aos manifestantes os dignos e ilustres cavalheiros Dr. Arthur Heráclio Gomes, integro Juiz Municipal e Affonso Gama, zeloso Chefe da Estação Telegráfica, Os trens expressos voltaram:- para Paranaguá, ás 6 horas da tarde, para Curitiba ás 3 ½ da madrugada, para Antonina ás 6 horas da manhã, não havendo felizmente tanto nas festas como nas viagens qualquer incidente que pudesse anuviar as alegrias do povo.
Hoje ás 6 e 10 da manhã, ao som alegre dos acordes, chegou o comboio a Curitiba, trazendo os manifestantes, terminando assim os festejos patrióticos organizados pelos morretenses e que alcançaram o mais extraordinário brilho, não só pelo seu belo programa como pelo seu cunho sinceramente fraternal.
Foram distribuídos uma elegante poliantéia contendo belos escritos, um numero especial do Rebate, impresso em ouro, e o primeiro numero d’O Morretense, que estampou, alem de belos escritos, os retratos dos distintos artistas Silveira Netto e Luiz Bastos, autores da letra e musica do Hino Morretense, os dois vitoriosos do dia”.
Finalizando, o trecho conclusivo do discurso proferido pelo Sr. Affonso Gama de Camargo, no encerramento dos festejos:
SENHORES!
“Eu desejaria que esta homenagem hoje tomasse o caráter de uma comemoração, que Morretes se torne a Meca da vossa romaria de afeto, que anualmente, neste mesmo dia, lhe presteis aqui o tributo da vossa saudade.”
“Dai a vantagem de conservar unidos pelo mesmo pensamento, tantos elementos bons e dessa unidade de idéias os bons frutos serão infalíveis.”
“Faço os mais ardentes votos para que essa festa seja não só um preito de amor a esta terra que vós foi berço, uma homenagem de saudade a opulência de seu passado, como também augúrio certo do seu brilhante porvir.” (Sic)
Estava então a nossa Morretes dotada de um belíssimo Hino, fruto do trabalho de uma plêiade de Morretenses que não pouparam esforços para que suas idéias se concretizassem.
Com o passar dos anos e, atendendo as reformas ortográficas, as palavras foram se modificando, sendo atualmente esta a letra do Hino Morretense:

HYMNO MORRETENSE

Com a imponência dos morros altivos,
Que o embate dos anos não vence,
Êia, alerta! Troféus redivivos!
Eia, glorias do Lar Morretense!

Aureolai corações, á porfia, (coro)
Nossa Terra de Paz e de Amor.
Que a alvorada da glória e alegria
Feche a noite das horas de dor.

Soberana já foi nossa Terra,
Desde o Anhaia á gentil Nova Itália!
Que a palmilhe, dos campos á serra,
Da Fortuna a doirada sandália

Aureolai corações, á porfia, etc. (coro)

Foi um belo torrão brasileiro;
Será forte, mal grado mil fráguas;
Di-lo o audaz Marumbi sobranceiro,
Nhundiaquara o proclama nas águas!

Aureolai corações, á porfia, etc. (coro)


E o dirá nosso amor, em cadencia,
Dos valados aos montes soberbos,
Como um eco da antiga opulência
Florescendo nos dias acerbos!

Aureolai corações, á porfia, etc. (coro)

E o proclame o rumor do Trabalho
-Semeador das searas eternas-
Como um cântico sacro do orvalho,
Despertando estas plagas maternas!

Aureolai corações, á porfia, etc. (coro)

E a Morretes, ao ver novos trilhos,
Sagrarão, da Vitória ao acesso,
O laurel de um abraço dos filhos,
E o hinário febril do Progresso!




Autor: Éric Joubert Hunzicker     
E-mail: eric.hunzicker@hotmail.com


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