HISTÓRIA DA MOEDA BRASILEIRA.
DO PAU-BRASIL AO REAL.
Na exposição do Museu Paranaense está a cédula número 1 de 50 mil réis, impressa durante o período imperial. |
Raridades como moedas que circularam
no período colonial no século 17 atraem
olhares dos curiosos.
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HISTÓRIA DO DINHEIRO
por Daniel Castellano - Gazeta do Povo.
Um passeio pela história do dinheiro em terras tupiniquins desde 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil.
Do pau-brasil ao real.
Um punhado de conchas em troca de um escravo africano. Um peixe por uma espiga de milho. Um pedaço de pano por um naco de tabaco. O escambo, prática em que mercadorias, animais e especiarias possuem valor de moeda, foi implantado pelos portugueses assim que chegaram ao Brasil, em 1500. Era o início da história do dinheiro no país.
A carta de Pero Vaz de Caminha, primeiro registro sobre a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral em terras tupiniquins, chega a descrever a troca inaugural no Brasil: equipamentos do navegante por colar e cocar de indígenas. Os 3 milhões de índios que viviam no país, acostumados com a economia de subsistência, estranharam os costumes estrangeiros. Mas foram eles, explorados pelos colonizadores, que fizeram do pau-brasil a primeira moeda de troca oficial em nossa terra. Os indígenas retiravam e entregavam a madeira aos colonizadores em troca de miçangas, tecidos, facas e outros objetos.
Economia
Com hiperinflação, Brasil teve seis moedas em apenas oito anos.
A partir de 1986, o cruzeiro é novamente substituído pelo Plano Cruzado, durante o governo de José Sarney. Foi a primeira de um total de seis mudanças que o país registrou até a implantação do Plano Real, em 1994. Por causa de uma inflação que alcançou 200% ao ano, foi realizada mais uma alteração monetária no país. “A inflação chegava a 2% ao dia. De manhã os produtos tinham um preço e à noite outro”, relata o professor Másimo Justina. Mil cruzeiros passaram a valer 1 cruzado no fim de 1986.
Segundo o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná, Marcelo Curado, não havia razão prática em alterar a moeda. “A medida não incluía mudança de plano econômico, era só cortar zeros e o nome da moeda. Não havia proposta concreta”, ressalta. Em 1989, com uma inflação de 1.000% ao ano, a mesma tática foi adotada e entrou em vigor o cruzado novo, que durou somente um ano.
Em 1990, já no governo de Fernando Collor de Mello, o cruzeiro é “ressuscitado”.
Três anos depois, entrou em vigor a moeda que funcionou como transição para o real. No governo de Itamar Franco, o cruzeiro sofreu outro corte de zeros e virou cruzeiro real. No fim de 1993, criou-se um indexador único, a unidade real de valor (URV). Em julho de 1994, o real é implantado no país – um Real valia CR$ 2.750. “Esse foi o único plano que não correspondia só a tirar os zeros, mas também estabelecia metas de controle da inflação e também a adoção de uma moeda estável que dura até hoje”, salienta Curado.
Numismática
A exposição Dinheiro e Honraria: o Acervo de Numismática do Museu Paranaense – composta por cerca de 600 objetos, entre moedas, cédulas, medalhas, condecorações, fichas, jetons e outros itens relacionados – mostra parte da trajetória do dinheiro no país e no mundo. Entre as moedas mais antigas estão exemplares de 269 a.C. da Roma Antiga, do Japão, datada do século 18, e da Pérsia Antiga.
Dos exemplares brasileiros, há moedas desde o período colonial, que circularam no século 17, passando pelos réis que circularam na época do Império até a chegada do real. Também estão expostas medalhas do Brasil e de outros países. Há destaques para diversas condecorações especiais do Império Brasileiro, de Portugal, Turquia, China, entre outros países. A exposição deve seguir no Museu Paranaense até 2015.
Outras moedas comuns
Panos de algodão, açúcar e tabaco eram outras moedas comuns na nova colônia portuguesa. O gado bovino foi um dos mais utilizados no escambo. Pequenas conchas do mar, que funcionavam como moeda no Congo e Angola, foram usadas na compra de escravos, como visto no início da reportagem.
Metal
Paralelo às mercadorias, as moedas de metal circulavam no Brasil colonial. A primeira foi os réis, unidade monetária de Portugal nos séculos 15 e 16. Com a formação da União Ibérica (1580-1640), verificou-se um fluxo grande de moedas de prata espanholas (reales). As moedas de réis portugueses eram as mesmas usadas na metrópole, oriundas de diversos reinados e possuíam, às vezes, denominações próprias, como português, tostão e vintém.
Nesse período, a moeda brasileira se formava de modo aleatório, com outras espécies trazidas por colonizadores, invasores e piratas que comercializavam na costa brasileira. Um exemplo são as moedas holandesas. Cercados pelos portugueses no litoral de Pernambuco e não dispondo de dinheiro para pagar seus soldados, os holandeses realizaram entre 1645 e 1646 a primeira cunhagem de moedas em território nacional. Foram também as primeiras moedas a estamparem o nome do Brasil.
Devido à inexistência de uma política monetária específica na colônia, a quantidade de moedas em circulação era insuficiente. Por esse motivo, as mercadorias permaneciam tendo valor de dinheiro. Em 1614, por exemplo, o governador do Rio de Janeiro estabeleceu que o açúcar corresse como moeda legal, ordenando que os comerciantes o aceitassem obrigatoriamente como pagamento. “Os réis e o escambo funcionaram como moeda durante a colônia. Após a independência, em 1822, e da Proclamação da República, em 1889, os réis seguiram como moeda oficial até 1942. Ou seja, da chegada dos portugueses ao governo de Getúlio Vargas”, explica o professor de economia da PUC-PR Másimo Della Justina.
Cruzeiro foi “marketing” de Vargas
Na primeira troca de moeda do Brasil, durante o governo
de Getúlio Vargas, os réis deram
lugar ao cruzeiro.
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O Brasil começava a sofrer os efeitos da Revolução Industrial de 1930 quando, em 1942, o presidente Getúlio Vargas determinou a primeira mudança do nome da moeda brasileira. O real, em vigor desde o período colonial, seria aposentado. Em seu lugar entrou o cruzeiro. Mil réis passaram a valer 1 cruzeiro, sendo o primeiro corte de três zeros na história monetária do país. É aí que surge também o centavo.
Segundo o professor e pesquisador Másimo Della Justina, a mudança da nomenclatura foi uma estratégia de marketing do Estado Novo. “Era para mostrar que o Brasil vivia uma nova era, com a industrialização de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo”, explica.
O cruzeiro vingou até 1967, quando o governo militar realizou um novo corte de três zeros na moeda para tentar evitar sua desvalorização.
Dessa forma, o cruzeiro novo substituiu o cruzeiro “antigo”. Para adaptar as antigas cédulas que estavam em circulação, o governo mandou carimbá-las. Três anos depois, em 1970, os militares voltaram a alterar a nomenclatura da moeda brasileira, chamada novamente de “cruzeiro”. “Nesse período, o Brasil enfrentou o chamado milagre econômico (1968-1973), com crescimento de 9% ao ano, mas também crises financeiras, como a volta da inflação”, afirma o pesquisador.
Em 1974, veio o chamado Choque do Petróleo – o barril passou de US$ 4 para US$ 16. “Os preços eram elevados e esse período da inflação alta acompanhou o Brasil até 1994, quando chegou o real”, diz Justina.
Moedas do Brasil
TABELA DAS ALTERAÇÕES DA MOEDA BRASILEIRA
Quadro sinótico com histórico de todas as transformações que passou
o nosso sistema monetário desde 1942 (o que não ocorre em países
de primeiro mundo).
Quadro sinótico com histórico de todas as transformações que passou
o nosso sistema monetário desde 1942 (o que não ocorre em países
de primeiro mundo).
Denominação | Símbolo | Período de Vigência | Paridade em relação à moeda anterior | Extinção de centavos | Fundamento Legal |
Cruzeiro | Cr$ | 01.11.1942 a 12.02.1967 | 1.000 réis = 1,00 cruzeiro (1 conto de réis = 1.000 cruzeiros) | Fração do cruzeiro denominada "centavos" foi extinta a partir de 01.12.1964 | Decreto-Lei nº. 4.791 de 05.10.1942 Lei nº. 4.511 de 01.12.1964 |
Cruzeiro Novo | NCr$ | 13.02.1967 a 14.05.1970 | 1.000 cruzeiros = 1,00 cruzeiro novo | - | Decreto-Lei nº. 1 de 13.11.1965 Resolução do BC nº. 47 de 13.02.1967 |
Cruzeiro
| Cr$ | 15.05.1970 a 27.02.1986 | 1,00 cruzeiro novo = 1,00 cruzeiro | Fração do cruzeiro denominada "centavo" foi extinta a partir de 16.08.1984 | Resolução do BC nº. 144 de 31.03.1970 Lei nº. 7.214 de 15.08.1984 |
Cruzado | Cz$ | 28.02.1986 a 15.01.1989 | 1.000 cruzeiros = 1,00 cruzado | - | Decreto-Lei nº. 2.283 de 27.02.1986 |
Cruzado novo | NCz$ | 16.01.1989 a 15.03.1990 | 1.000 cruzados = 1,00 cruzado novo | - | MP nº. 32 de 15.01.1989, convertida na Lei nº. 7.730 de 31.01.1989 |
Cruzeiro | Cr$ | 16.03.1990 a 31.07.1993 | 1,00 cruzado novo = 1,00 cruzeiro | - | MP nº. 168 de 15.03.1990, convertida na Lei nº. 8.024 de 12.04.1990 |
Cruzeiro Real | CR$ | 01.08.1993 a 30.06.1994 | 1.000 cruzeiros = 1,00 cruzeiro real | - | MP nº. 336 de 28.07.1993, convertida na Lei nº. 8.697 de 27.08.1993, e Resolução BACEN nº. 2.010 de 28.07.1993 |
Real | R$ | Desde 01.07.1994 | vide notas * | - | Lei nº. 8.880 de 27.05.1994 e Lei nº. 9.069 de 29.06.1995 |
Notas: A paridade entre o real e o cruzeiro real, a partir de 01.07.1994, é igual à paridade entre a URV (Unidade Real de Valor) e o cruzeiro real fixada pelo Banco Central do Brasil para o dia 30.06.1994 (CR$ 2.750,00). - Portanto, a conversão de cruzeiros reais em reais deve ser feita mediante a divisão do valor em CR$ pelo valor da URV de 2.750,00. - No caso de Conversões de valores mais antigos (antes de 1993 - Cruzeiro Real), é necessário aplicação de outras regras. - De qualquer forma (dependendo do caso), deve-se proceder além da conversão, a atualização através dos índices do IGP-DI - primeiro se atualiza, e depois se converte. |
EXEMPLO (no caso de Cruzeiro Real para o atual Real):
CR$ 2.750,00 / 2.750,00 = R$ 1,00
CR$ 1.000.000,00 / 2.750,00 = R$ 363,64
CR$ 2.750.000,00 / 2.750,00 = R$ 1.000,00
Assim, quem tinha Dois milhões e setecentos e cinqüenta mil cruzeiros reais, passou a ter: Um mil reais. Dr. Wolney da Rocha Godoy - advogado. |
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